quinta-feira, 31 de maio de 2007

Porque nascem as flores entre as pedras?

Porque nascem as flores entre as pedras, se o meio é agreste e as fere, nem um passo podem dar, não tivessem raízes a segurá-las ao solo cru, sonho de alturas, outros prados, visões macias da realidade mesma, ilusões, quem sabe, da vertigem de viver que quem está preso sente, velocidade, pavor do imobilismo, desejos de vento, mesmo que um despenhadeiro exista, pior nunca será, talvez haja mais água, talvez um doce e derradeiro mergulho.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Let's call the whole thing off!


O Citizen, um blog com tomates? Claro que sim. Obrigado pelo desafio, Papagueno. A expressão é usada na linguagem corrente como sinónimo de coragem, ou melhor, daquela coragem quase inconsciente, interventiva. Um elogio, portanto, porque me identifico com essa característica, quem me conhece sabe que não gosto de me calar e que compro uma boa briga com facilidade. Não é difícil, apenas natural, sobretudo quando se entregam as 24 horas que o dia tem mais as outras que inventamos para tentar acordar, com o contributo possível, as consciências anestesiadas dos vizinhos humanos. Ora o que faz o um ser humano é a diversidade. Todos somos únicos. Todos temos características. A Mary que por aqui escreve uns disparates de vez em quando tem 1,62 e pesa 48 kg. Nasceu com os cinco sentidos activos, para além do sexto que afinal não me parece ser a intuição, mas o da justiça, que veio nos genes e em posterior convívio de 41 anos de existência.

Achei alguma piada à imagem porque nada é óbvio e as imagens que temos de um tomate (legume, entenda-se) são demasiado standard. Como de uma pessoa. Regras de ouro? Não me parece. You say tomato... Pois. Vive la différence. Passei eu os últimos dias, quando não os últimos anos, a conviver com pessoas com tantas características diferentes que se o ET me
aterrasse na garagem não lhe saberia facilmente definir um ser humano. Tem dois braços e duas pernas? Hum. Conheço quem não tenha. Tem olhos, nariz e boca? E se não tiver? Tem cinco sentidos funcionais? Ná... Tem uma capacidade cognitiva dentro de uma determinada escala? Sem ofensa mas conheço professores de ensino especial que se a têm não a utilizam.

Então o que é isso de se ser humano, o que é isso de normalidade? Sinceramente que vos digo que não sei se me interessa definir o conceito. Acho que a postura de etiquetar seres humanos, essa, sim, é patológica. Por isso, fiquemo-nos por análises de capacidades. E não falemos de divergências, mas de liberdade, evitemos o termo estranho e naturalizemos o termo diverso. Talvez porventura arriscar uma grelha de pensamento um pedacinho mais alargada que a usual, pensar que todos temos potencialidades e que elas devem ser rentabilizadas por nós mesmos, para isso precisando de condições de apoio no nosso arranque desde que chegamos ao mundo.

Afinal, nos últimos três dias conheci tantos pequeninos e grandes que têm tomates (vernáculo agora) para assumir a vida e as suas diferenças da maioria da população da sua idade, para lutar pela desmistificação de estigmas em casa, na escola, no meio laboral, que me parece valer a pena lembrá-los enquanto escrevo este post, não pensasse eu neles todo o dia.

Escreverei - até que a voz me doa - enquanto nalgum canto deste mundo alguém for injustiçado, humilhado ou menosprezado por ignorância (mãe do medo), utilizado para interesses ou promoção de outrém, que é isto de se separar a humanidade em fatias?

Mais uma vez lembro que tudo passa por comunicar, informar, aprender em conjunto. É trabalho de equipa, ou os homens esquecem-se assim tão facilmente que são família? Voltamos à questão do Esperanto e da uniformização. Dicotomia útil, o bom senso deve prevalecer nas relações humanas. Falar a mesma língua entre diferentes e em liberdade. Gosto do conceito. Parece-me que vou dedicar a minha vida a este trabalho. Terei ... ?


For we know we need each other so... Vozes da razão.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

"Vou p'ro Porto"

Ganharam o campeonato, ganharam a AJUTEC. Daí certamente a Quinta das Lágrimas, de Coimbra para cima só há dragões...

Que fazer? Que remédio? Obviamente estou a brincar. Tenho muitos e bons amigos no Porto. Estarei lá no domingo, sem fitas e com gosto (prometo não dar cabo do Barata, se o encontrar). Quem passa por estas portas sabe que trabalho e estudo nas áreas da acessibilidade e dos direitos humanos. Alguém que precise de informações nesta área (algumas já levo na agenda, não me esqueço, trust me) tem o meu email à disposição. A Águia de Carnaxide trará o que puder, mesmo sem título...

A AJUTEC é a maior reunião de associações privadas, organismos públicos e representantes nacionais e estrangeiros de soluções para comunicação aumentativa e de soluções técnicas e tecnológicas adaptadas à variedade de seres humanos que existem. Eu sou míope e fotossensível, por exemplo, e alterno entre lentes apropriadas e óculos graduados com filtro. Não conheço duas pessoas iguais. Conheço algumas que precisam de soluções mais complexas para o seu bem estar e autonomia. Conheço outras que se dizem "normais" (um conceito que, a bem dizer, não concebo) e que julgam não precisar de nada e ser invencíveis em nome de uma qualquer razão que desconheço (medo de ser gente, possivelmente), Titanics sociais e políticos que fazem muito mal nos seus discursos, atitudes e medidas discriminatórias.


Convém estar informado. Além de todos sermos diferentes, como se a humanidade fosse uma bonita caixa de smarties, todos somos diferentes todos os dias e a vida não passa por nós impunemente. Há lesões sensoriais e motoras que nos acompanham desde o nascimento. Outras são mais graves, do domínio da patologia, degenerativas, e devem ser estudadas para prevenir a sua evolução negativa e garantir o bem estar dos seus portadores. Existem ainda outras que se encaminham para nós em qualquer momento. Como uma cicatriz. Estigmatizados, mais tarde ou mais cedo? Não me parece. Antes provas vivas de vida e de diferença. Felizmente, a tecnologia não é só nuclear, obrigado, e os criadores de soluções de bem estar são hábeis.


Não estamos no domínio da ficção, quantos de vós conhecem software e hardware que ultrapassam ausências sensoriais e motoras profundas? Embora em modo de trabalho árduo - haverá outro? - estarei no Porto no Domingo. Fica a oferta. O meu mail está no meu profile. Disponha quem precise ou quem, simplesmente, se interesse.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Crianças

Todos, sempre. Porque não há idade para fazer bolas de sabão e ficar a vê-las esvoaçar como borboletas, soprar sonhos delicados e esperar que durem para sempre, e depois duram mesmo. Crianças quando precisamos de mimos e beijinhos e colo, quando queremos que nos contem outra vez a história da noite, quando os filhos começam a passar o braço por cima de nós e ainda mal limpámos as lágrimas motivadas pelo desgosto que nos deram os patifes que mataram a mãe do Bambi. Crianças quando rimos sem saber porquê e choramos por tudo, quando o mais ínfimo dos problemas passa à titularidade de dói-dói e nos dá para arrumar desenhos inconsequentes e redacções sobre a primavera que ainda continua, ainda agora a minha mãe a mandar-me descer da árvore porque posso esfolar os joelhos e pôr o chapéu por causa do sol. Vamos pois à bomba de gasolina de triciclo, fumando cigarros de chocolate, faz bem melhor à bolsa e à saúde, sorrir sem vergonha e limpar as lágrimas e fluidos anexos à manga do bibe, sempre de riscas, claro, e com pontas de lápis de cor partidas no fundo dos bolsos. Crianças todos, cheios de medo das trovoadas e dos maus, cheios de razão e com os olhos grandes a procurar a luz que deve aparecer quase, quase a seguir, quando se abrir a porta do quarto e entrar uma mãe a encaminhar o rancho para a escola. Crianças quase bebés porque fazemos fitas e birras e todos os conflitos fossem assim resolvidos na ONU, com um beijo tolerante a saber a restos de smarties, deixando-nos sempre os crescidos dar mais uma volta no carrossel. Espero a minha vez, também quero andar agora na cadeira que gira sem parar dentro do mundo e acreditar que a volta nunca é a última, a música continua, e o senhor do algodão-doce com toda a certeza não me dará o desgosto de se ir embora, afinal não quero descer e ter 41 anos, será que algum dia os terei?

segunda-feira, 21 de maio de 2007

...

A morte é uma flor que só abre uma vez



Mas quando abre nada se abre com ela



Abre sempre que quer e fora da estação.







Palavras de Paul Celan

Imagem de Beatriz Vidal

domingo, 20 de maio de 2007

Desafiada

Eu quero – Ser feliz
Eu tenho – 55 anos…
Eu acho – que um dia serei feliz…
Eu odeio – cinismo estupidez, e hipocrisia…
Eu sinto – saudades da minha infância e de algumas pessoas…
Eu escuto – música, e principalmente os outros….
Eu cheiro – todos os bons odores…
Eu imploro – por justiça
Eu procuro – paz…
Eu arrependo-me – de algumas atitudes que tomo, e reconheço que estavam erradas…
Eu amo – os meus filhos, e outra pessoa…
Eu sinto dor – quando me enganam, e me traem…
Eu sinto falta – de carinho, amor, e tranquilidade...
Eu importo-me – com a intolerância, com o racismo, e com a pobreza…
Eu sempre – me enervo com facilidade…
Eu não fico – indiferente às injustiças…
Eu acredito – em mim…
Eu danço – pessimamente…
Eu canto – de vez em quando, mas quando estou só…
Eu choro – quando estou muito emocionado…
Eu falho – em muitas coisas, sou humano…
Eu luto – para que não haja tanta injustiça, desigualdade, e pela minha felicidade…
Eu escrevo – muito, todos os dias…
Eu ganho – pouco…
Eu perco – a paciência com a estupidez, e a arrogância…
Eu nunca – digo nunca…
Eu confundo-me – quando me enervo….
Eu estou – muito inquieto neste momento…
Eu sou – teimoso, persistente, sincero, amigo …
Eu fico feliz – quando reconhecem algo de bom em mim…
Eu tenho esperança – que um dia terminem as guerras no mundo, e a miséria extrema…
Eu preciso – de tranquilidade e paz….
Eu deveria – ter terminado, o que nunca acabei…

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Esperemos...

Imagem dos anos 50: colunas "language" e "barrier", no meio uma estrada com carros. Uma criança pergunta: "Mummy, why are all those people climbing instead of using teh road?" A mãe responde: "Oh, theu have their reasons, dear. Some don't know there is a road; some won't use it because roads are artificial; and some have plenty of time". Mensagem: "Use the highway! Learn Esperanto now."
Comunicar. Haverá esperança? Corremos demais para lado nenhum e os passos enredam-se como os destinos em teias de mal-entendidos e desalinhos, dúvidas e cansaços.
-
Hesitar. Trepamos pelo lado heróico ou seguimos discretos na berma da vida? Olhamos para baixo e temos vertigens de quem está colado ao chão porque já nasceu sem perspectivas ou olhamos em frente, por nós e por todos, por uma luz que atrai e pode ser afinal, apenas o reflexo do nosso pensamento?
-
Correr. O risco que pisamos e em que nos equilibramos com o peso de pensar demais ou a inconsciência dos felizes que vivem só e apenas um bocadinho?
-
Falar, escrever. De quê, com quem, para quem? Lutadores de boxe com reforma antecipada, comunica-se corpo a corpo, palavra a palavra, pensamento a pensamento, interessam os meios ou somos todos discípulos de Maquiavel e roubamos a alma alheia em fotografias disparadas como balas pelas estradas de tijoleira, perigosos os contrastes, saberemos ajustar a luz?
-
Pensar em mate. Será seguro? Como impressões de qualidade, medir o que se sente antes de passar a mensagem. Esperantos que esperamos que existam, somos todos o máximo, afinal e tão mínimos que somos...
-
Esperança, o menor denominador, o mais comum.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Dias úteis




Dias úteis

às vezes pretextos fúteis

pra encontrar felicidades

no percurso de um só dia.

Dias úteis

são tão frágeis, as verdades

que se rompem com a aurora

quem as não remendaria?

Dias úteis

mesmo se a dor nos fizer frente

a alegria é de repente

transparente

quem a não receberia?

Mesmo por pretextos fúteis

a alegria

é o que nos torna os dias úteis

Dias raros

aqueles que por amparos

do bom senso e da imprudência

fazem os prazeres do dia

Dias raros

como os ares,

Rarefeitos

amores mais do que perfeitos

quem os recomendaria?

Dias raros

em que os mais dados às rotinas

ouvem sinos, seguem sinas cristalinas

quem as não perseguiria?

Por motivos

talvez claros o prazer

é o que nos torna os dias raros

Por pretextos

talvez fúteis a alegria

é o que nos torna os dias úteis

Por motivos talvez claros

o prazer é o que nos torna os dias raros

Por pretextos talvez fúteis

por motivos talvez claros.



Palavras do Irmão do Meio.
Escultura Mother and Child de David Borrus.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

O que estou a ler:

... perguntou-me Carlinhos Medeiros. Uff, que leio sempre muito e muitas coisas ao mesmo tempo. Devo fazer um preâmbulo, portanto, e explicar que sou leitora compulsiva desde os cinco anos. E não sei ler só um livro de cada vez. Normalmente também não os leio só uma única vez, palavras sem ordem que alguem escreveu para outro alguém pensar viradas ao contrário, rearrumadas numa anarquia de olhares que nenhum editor concebe. Livre escrita, livre circulação, livre interpretação. Ler é fundamental para crescer por dentro e perceber como se é pequenino e falta sempre o caminho todo e mais o que se aprendeu que falta percorrer.

Tenho livros por toda a minha vida cronológica, espacial e mental. Há tempos e espaços de leituras. Há estados de espírito. Há dependências. Os meus hábitos presentes passam por ter os livros de trabalho numa divisão, livros que se consultam, livros sérios, de gravata, tecnocratas e sábios, os que falam de coisas importantes, como Directores Técnicos do nosso pensamento. No quarto, numa pequena estante e numa pequena mesa, empilham-se livros ligados à minha investigação. É o domínio de Foucault e Derrida, neste momento. Estudo identidades. Encontrarei a minha?

Tenho outros livros arrumados com o coração, conheço-lhes o cheiro, as páginas soltam-se-me nas mãos oferecendo-me as memórias que lhes peço e o sentir que preciso em cada momento. Têm sublinhados, têm anotações, adoro livros de gerações outras e de outras vivências, também os meus estão marcados por mim, pelos meus dedos, pelos meus lápis, pelo meu sentir. Quem abra um livro meu despe-me.

Estou, claro, a fugir por entre letras à pergunta inicial: na minha mesa de cabeceira encontram-se alguns que releio, o que leio pela primeira vez e mais vorazmente é este menino:





sexta-feira, 11 de maio de 2007

O terceiro filho de Aurélio


Já vão longe os meus tempos de IADE. O meu percurso é um bocado para o esquizofrénico em termos de interesses. Mas tem como base a causa da COMUNICAÇÃO. O que é um bom punctum (se bem me recordo das aulas de Semiótica e dos escritos de Roland Barthes). Sempre que penso em fotografia penso em figuras de referência, andamos todos a precisar de heróis, eu preciso, com certeza.

A história da fotografia portuguesa está recheada de figuras discretas e interventivas, na arte e, pela arte, na sociedade. Um dos meus heróis é, assim, Aurélio da Paz dos Reis. Aurélio deixou escola, discreta como o seu percurso. Fotografou anónimos, trabalhadores, sofredores, pessoas, amigos, família, o seu jardim de que cuidava amorosamente. Também muitos acontecimentos públicos, dramas sociais, esteve ligado a movimentos maçónicos e republicanos. Olhares diversos, procurou o movimento e a vida, interveio pela imagem e pelo envolvimento com o outro lado da câmara, o duplo lado que vai encontrar o olhar do fotógrafo: quem é captado e quem vê e é seduzido.

O movimento era lento, pois que Aurélio não tinha imediatas condições tecnológicas para concretizar os seus sonhos e desejos. Mas acabou ser uma história cor-de-rosa, a sua tenacidade, as sequências e regularidades dos seus caminhos, levaram-no a ser o pioneiro do cinema em Portugal.

Hoje a fotografia já é considerada Licenciatura no nosso país. Foi uma batalha grande, considerada arte menor, arte complementar, informação ilustrativa e não válida por si mesma. Uma imagem diz mais que mil palavras? Não sei. Depende da imagem como depende certamente das palavras. Mas que é tão válida e tão forte é para mim uma certeza.

Em que se transformaram hoje a fotografia artística, o fotojornalismo de intervenção, o cinema documental português? É difícil fazer julgamentos, não me cabe a mim fazê-los. Mas algo me diz que em Portugal continuam a nascer e a formar-se bons amantes da imagem, dos que sabem do que andam à procura (leia-se, os que criam percursos harmónicos e com sentido).

Aurélio deixou-nos três preciosas dádivas: a esperança num mundo justo e afectuoso, a aplicação da arte à dignidade do trabalho e o cinema, a sua grande e persistente batalha pelo casamento das imagens e do tempo. Obrigado.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

No labirinto do fauno

Contos de fadas, até que o mundo deixe de girar...

-

Credits: Guillermo del Toro, El Laberinto del Fauno, 2006.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Há dias...


Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas
-
Ala dos Namorados (João Monge)
-
Há dias em que o mundo deprime qualquer flor que se preze e o mais bem intencionado sorriso cai. Há dias em que não cabemos mesmo na pele ou não queremos caber. Há dias em que o mundo não é um planeta azul porque o olhamos mais de perto e vemos uns bicharocos prepotentes a devorarem quem se aproxime. Crianças desaparecidas, crianças com fome, animais abandonados, aquecimento global, planeta mal tratado, pessoas a sofrer, mulheres apedrejadas, eu sei que ando a ver os meus emails pessoais de corrida, mas hoje parecia a abertura do noticiário. E não dá para ignorar, pelo contrário, ainda bem que por aqui conseguimos dar alguma consciência uns aos outros do que se passa, alertar para os valores que se perderam ou nunca se ganharam, diz a historiadora pessismista. Há dias em que o facto de lidar com muitas situações difíceis e de luta me levam a minimizar outras. Há dias em que ponho a mão na consciência e penso se faço o suficiente pelo que está errado e deve mudar para certo. Há dias em que me apetece mudar para outra dimensão e depois não, que não é com ataques de cobardia que se ganham guerras. Há dias em que tudo e nada nos chocam, uma palavra mais agressiva, uma notícia triste. Fases mais ou menos dolorosas, mas o que são os nossos problemazinhos e as nossas vidinhas perto de dramas bem mais prementes e mais latos? Estamos a fazer o suficiente? Não sei. Falar ajuda. Também, muito, com as gerações seguintes. Não para passar a pasta da incompetência, que as famílias não são autarquias... Mas para explicar as impotências que sentimos até hoje e a ajuda que precisamos de sangue novo para os combates nesta coisa redonda e azul em que nascemos. Ainda gostaria de ver um sorriso em cada esquina. Ainda gostaria que o sofrimento desnecessário terminasse. Já basta quando nada podemos, de facto, fazer. Somos tão pequeninos. Consistirá nisso a nossa força? Penso em Saint-Éxupery: "Tive assim, no decorrer da vida, muitos contatos com muita gente crescida. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião."
-
Pode ser que venham dias...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Mary


Caminhamos sempre pelo rumo dos nossos princípios. Foram-me pedidos três "memes" esta semana. É por eles que luto, que vivo e que trabalho. Obrigado a quem me propôs esta partilha de ideais: Ludovicus Rex, Carlinhos Medeiros e Alzira Henriques.

1. INFORMAÇÃO SEM BARREIRAS:

É importante que a informação chegue ou seja acedida em condições dignas a todos os homens, independentemente da sua condição sensorial, motora ou cognitiva. Os direitos humanos passam pelo acesso à informação e pelo dever de a proporcionar de forma adequada.



2. CULTURA DE PAZ :


A cultura é a memória dos homens que permanece, a que é esculpida pelo tempo, a que se transmite e nos valida a permanência. É para respeitar e para dar a conhecer, para cultivar e usufruir. Uma das formas mais acessíveis de informação é a leitura. Divulguem-se as armas certas.


3. AMOR SEM LIMITES:

Ser pessoa sem medo e sem restrições, sobretudo sem mais explicações que a de Rodin na sua obra ou que a de Boris Vian na sua escrita: "Sexuellement, c'est-à-dire avec mon âme."

-
Não sei se é suposto passar a pasta, como usualmente se faz nestes desafios. Penso em outras reflexões positivas que costumo frequentar. Peço, assim, os memes aos meus amigos:






sexta-feira, 4 de maio de 2007

Só?


"O amor é uma companhia.

Já não sei andar só
pelos caminhos."


Alberto Caeiro

terça-feira, 1 de maio de 2007

Gérminal


Bom livro para ler a 1 de Maio...

"L'homme était parti de Marchiennes vers deux heures. Il marchait d'un pas allongé, grelottant sous le coton aminci de sa veste et de son pantalon de velours. Un petit paquet, noué dans un mouchoir à carreaux, le gênait beaucoup ; et il le serrait contre ses flancs, tantôt d'un coude, tantôt de l'autre, pour glisser au fond de ses poches les deux mains à la fois, des mains gourdes que les lanières du vent d'est faisaient saigner. Une seule idée occupait sa tête vide d'ouvrier sans travail et sans gîte, l'espoir que le froid serait moins vif après le lever du jour. Depuis une heure, il avançait ainsi, lorsque sur la gauche, à deux kilomètres de Montsou, il aperçut des feux rouges, trois brasiers brûlant au plein air, et comme suspendus. D'abord, il hésita, pris de crainte ; puis, il ne put résister au besoin douloureux de se chauffer un instant les mains."
Zola, Germinal, 1885.