O Outono voltou em força, estação da beleza e das melancólicas rotinas. Pessoas chegam e partem da nossa vida, projectos têm princípio e fim. Outras e outros, felizmente, continuam. Trabalhar como escrever e viver: com o coração. Mesmo nas rotinas há chuva e sol, sol e chuva, baralhados pelo vento que nos leva rápido, parando-nos os sentidos, que somos gente e temos corpo. Pára-me uma palavra, uma frase inconsequente apanhada na rua como um riso, um beijo, um gesto, uma reflexão infantil ou adulta, um amigo que telefona porque está sem tempo para almoçar e eu também e por isso vamos parar o mundo e estar juntos. Alguém que telefona, como uma mãe. Uma troca rápida de emails. Lembro-me do meu aluno preferido que me tira o sono da manhã com a poesia do seu pensar fora do mundo dos grandes. O meu filho que toca violoncelo no quarto. Uma vizinha que chegou ao mesmo tempo carregada de compras e filhos e quem tira a chave primeiro, as crianças que largam gargalhadas como flores. Escrevo ao som do micro-ondas, equipamentos pós-modernos que fazem plim e nos tiram as mãos das teclas, escrevo com três dedos de cada mão, rápida, como os meus dias. Tenho orçamentos para acabar, uma reunião daqui a pouco, um livro para acabar de analisar. Estou cansada. É Outono, as aulas recomeçam na sexta-feira, apanharei chuva no caminho de Portalegre? Vou ver o atelier do Luís e ajudá-lo com as crianças. Vou à biblioteca da Escola. Vou beber o Alentejo todo, campos fora, rodas da carinha sujas e sorridentes. É Outono, já outros foram, no Outono passado quem era a Maria? Acabo este post depois de mais um telefonema. Quero almoçar amanhã, mesmo que seja sopa. Quero ir para o colo do meu pai. Quero os meus amigos todos vivos. Quero ser feliz no Outono (é quase um dever, por tão belo). Sorrio à verdadeira estação da renovação, a chuva não faz mal Ricardo, só o sol peca...
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