Abandonar a alma, as memórias, algumas raízes, partes de nós. Partir e deixar partir, construir sobre destroços e sentirmos sempre que fomos nós com uma fisga, miúdos, na sombra da infância que já foi.
Cada minuto deixa consigo o peso do que fazemos ou da inércia. Cada minuto de vida dói, sendo consciente. Sorrir com lágrimas, claro. Nas escolhas mais pequenas há sempre abandonos, a liberdade faz-se de opções, fica sempre algo fora das mãos pequeninas demais quando se agarra outro algo. Sentir é crescer, ser consciente, gerir, difícil é sentir e escolher com a pureza e impulsividade da infância, quando se luta pelo beijo da mãe entre cinco irmãos, quando se come o pão do lanche como um refugiado na cozinha que é, afinal, a mais protegida do mundo e só soubémos agora.
Ser feliz com lágrimas e ser feliz assim mesmo é saber gerir sentimentos sem magoar - só a nós, às vezes, só a nós... - situações, palavras, olhares, quereres, causas. Optar sem saber porquê, porque só respiramos naquele caminho por muito que doa. Morder como quem beija a vida que agarramos como se nunca mais houvesse um nascer do sol a saborear, cor de pêssego na madrugada fria.
Saber o que se quer, ou ter dúvidas, optar ou adiar - também é uma decisão.
Ser gente, feliz, com lágrimas de gente.
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