quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Mio Cid

El ciego sol, la sed y la fatiga.
Por la terrible estepa castellana,
al destierro con doce de los suyos
-polvo, sudor y hierro-, el Cid cabalga.

M. Machado
Amado pelo povo, impetuoso, fruto da época e da circunstância, mas respeitador de crenças outras, injustiçado, Rodrigo Dias de Vivar, El Cid Campeador ou Mío Cid, como era carinhosamente apelidado pelos seus, lutou por tudo e todos a que jurou fidelidade, compriu os seus compromissos e acabou desterrado, ele que tantas terras conquistara, impedido de ser acolhido, ele que tanto acolhera e tolerara. Não nos sentimos todos assim quando partimos para a guerra? A história repete-se, claro, as circunstâncias são os homens que as fazem e com elas cercam outros homens, tirando-lhes opções, não necessariamente liberdade, que essa é maior que tudo e é interior. Lutar sempre, ser fiel a si mesmo e aos seus ideiais, viver por paixão, combater os inimigos por justiça, por si ou por outrém, mesmo que no final a rejeição seja o prémio, morrer com o sorriso plácido de ter cumprido, numa vida, uma tarefa. O Senhor de Valencia fez paz depois da guerra, acolheu e reconstruiu espaços de culto que se batiam, cultivou o encontro de diversidades (co-exist, onde é que eu já li isto?) e dinamizou saberes.
Aprende-se a viver com a história? Certamente. Cada dia nosso é uma contenda, espadas virtuais, grilhetas pesadas de rotinas, não somos livres de cavalgar em campo aberto, cometer actos heróicos e ficar com o nome em cantares, não estamos no século XII mas no XXI, fazer o quê? Avançar contra os nossos inimigos: aterrorizar com coragem a rotina, o tédio, a ignorância, a indiferença, a falta de profissionalismo, o facilitismo, a arrogância, a prepotência.
Cada dia se conquista mais um pouco de liberdade e de paz.
E é por nós que lutamos.

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