Astérix é imortal, hoje transformado em beijo de sms, sinal de vitalidade indelével, corajoso guerreiro, impetuoso, Astérix é tudo o que gostaríamos de ser. Intocável, algo acima do mundo e da dor, poucas vezes corruptível, triste apenas quando não corresponde ao que sabe ser capaz (ver Le Chaudron).
Obélix é a ternura, o nosso lado desajeitado, o amigo grande que se enconde em nós e só quer mesmo abraçar e amar e viver, sem grandes preocupações com o amanhã, feliz consigo próprio, tímido como todos os felizes, descarga emocional permanente nas suas paixões por Falbala, protector da sua própria fragilidade em Ideiafix, que de tudo precisa menos de protecção, aceitando-a, no entanto, paciente.
Li vezes sem fim estes álbuns, sobretudo na fase Goscinny de argumentos, de trocadilhos, as palavras podem ser uma fonte de mal entendidos e ele compreendeu-o genialmente. Procuro-os quando quero sair do mundo e voltar ao tempo sem tempo dos sonhos e das histórias acabadas à volta da fogueira, com todos os que conhecem o nosso nome e evitam cantares de bardo.
Estão entranhados no meu imaginário como genes no meu corpo, são demasiadas palavras, demasiado certeiras, lidas em fase-esponja, ternura aos quadrados, para toda a vida.
Os sorrisos largos de Uderzo são irrepetíveis, ninguém pode sorrir menos que Obélix - olhos fechados - ou menos seguro de si que Astérix - olhos bem abertos e seguros - quando tudo está bem, o dia começa e eu escrevo sobre a infância que vivo ainda hoje.
Idéafix, que vai connosco para sempre, mesmo escondido no fundo de um saco de bagagens, latindo de quando em vez para nos lembrar que somos felizes.
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