segunda-feira, 24 de julho de 2006

Prisões

Lendo sobre identidades, quase todos os conteúdos remetem para o despojar e para o anular. Espaços confinados, os asilos, as prisões, os hospitais, as escolas. Regras de modulação do corpo e da alma. Interrogo-me se será diferente do lado de fora. Vem-me um livro à memória, aquele que na minha identidade virtual - o meu eu blogger - está dado como o meu preferido (um dos): The Disposessed.

Cito: "There was a wall. It did not look important. It was built of uncut rocks roughly mortared. An adult could loook right over it, and even a child could climb it. Where it crossed the roadway, instead of having a gate, it degenerated into mere geometry, a line, an ideia of boundary. But the idea was real. It was important. For seven generations there had been nothing in the world more important than that wall. Like all walls it was ambigous, two-faced. What was inside it and what was outside it depended upon which side of it you were on."

Os muros são nossos? São impostos? São assumidos. São conscientes? Um amigo ensinou-me uma vez que todos temos grilhetas, é mais fácil se o soubermos. Outro deu-me um livro a ler: Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser. Tenho-me lembrado dele ultimamente.

E das identidades. Não só por trabalho, trabalha-se para viver - uma das grilhetas? - mas trabalha-se por algo mais forte, procuras (?). Os muros, onde nos situam? Quando educamos construímos muros? Crescemos dentro de muros? Podem-se saltar e ficamos onde, do outro lado, com o mesmo muro, nova face?

Trabalhar identidades é trabalhar o mais íntimo do ser humano, o que o constrói, o que o despoja, o que o destrói. Lembro-me de um filme, Voando sobre um Ninho de Cucos. Lembro-me de tiras de Quino. Lembro-me de um título de Daniel Sampaio, Vivemos Livres Numa Prisão.

Que espaço tem o homem, que espaço nos é dado, que espaço usamos da nossa cela? Tantas perguntas, perguntas para uma vida, perguntas de vida, quando procuramos encontrar um rumo, quebrar o muro que ninguém sabe se afinal é de vidro, passar para o outro lado do espelho, encontrar o mesmo eu.


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