Onde uns são Marta, outros são Maria. Quando nascemos todos temos sinais de individualidade, estigmas genéticos, físicos, sociais. Somos alguém desde a primeira lágrima, impassíveis e impotentes perante um nome e um berço, o mundo distingue Moinhos e Gigantes, não vá alguém ler muito e sonhar demais. Acabamos a calcetar os caminhos que outros pisam. O padrão final só nós o sabemos antes, para todos o dominarem depois de descoberto. Reconhecem-se?
"Tenho sido sempre um sonhador irónico, infiel, às promessas interiores. Gozei sempre, como outro e estrangeiro, as derrotas dos meus devaneios, assistente casual ao que pensei ser. Nunca dei crença àquilo em que acreditei. Enchi as mãos de areia, chamei-lhe ouro, e abri as mãos dela toda, escorrente. A frase fora a única verdade. Com a frase dita estava tudo feito; o mais era a areia que sempre fora.
Se não fosse o sonhar sempre, o viver num perpétuo alheamento, poderia, de bom grado, chamar-me um realista, isto é, um indivíduo para quem o mundo exterior é uma nação independente. Mas prefiro não me dar nome , ser o que sou com uma certa obscuridade e ter comigo a malícia de me não saber prever."
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