sábado, 8 de julho de 2006

Penélope


De esperas é feita a vida no feminino. Esperas desejadas como um amor ou um filho. Sentidas, fiéis, intensas, físicas. A relação das mulheres com o mundo é feita assim, ligações fortes, sinceras, desejos intermináveis, fidelidades ilógicas, quase animais. Por isso somos a terra e a lua, o porvir e o sonho. Fazer e desfazer, desconstrutivistas natas, para voltar sempre a construir, racionais de alma exposta às feridas, corpo intensíssimo por onde tudo passa, toda a vida das mulheres é o seu corpo, que, também ele, conta a sua história.

Há doze anos eu esperava, hoje espero. Esperamos sempre sobretudo ser felizes e queremos fazer e desfazer a nossa teia para que nos não apanhem em fragilidade, como se uma teia pudesse salvaguardar a fortaleza e fragilidade de cada uma das suas malhas.

A terra move-se, Penélope ocupa o pensamento e a vida, cuida dos outros e de si, esconde-se e aparece, reflecte e nada sai a não ser sentimento e acção discreta, perguntas escondidas na teia, temível de grande, que terá (terá?) que desfazer para reconstruir (Ulisses, onde?) - tive um filho há doze anos, continuei a tecer, continuo ainda, a vida constrói-se com mãos no trabalho e alma na lua. No feminino. Com amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário