Admirável o percurso de Rodin, os seus amores com Claudel, a sua escrita, os seus esboços, o seu percurso no inferno de Dante. Assim nasceu O Pensador, assim nasceu O Beijo. Durante a visita ao segundo círculo do inferno, Virgílio e Dante encontraram Paolo e Francesca, dois amantes italianos da Idade Média, amor trangressor e quase incestuoso dado que Francesca era casada com o irmão de Paolo. Francesca e Paolo apaixonaram-se profundamente, arrastados por leituras e interesses comuns, tendo a consciência do seu amor e a troca do seu primeiro beijo levado a uma maldição de Gianciotto, o marido traído, fixando as suas sombras no inferno, eternizando o beijo. Muito criticado pelo despojamento e entrega dos amantes ao seu destino consciente, Rodin procurou simplesmente não distrair o observador da pura emoção contida no tema, captar e transmitir a ideia, reforçando a sua potencialidade de escultor, fotógrafo suave de imaginários, construtor de sonhos e interrogações.
Num tempo em que a guerra é próxima e permanente, em que os infernos menores que se situam a ocidente são cultivados com um carinho sádico, parece-me a eternização do beijo ser um mal menor, menos rotineiro e menos severo na sua punição que toda a violência e sofrimento que os homens libertos, donos do mundo, espalham ao seu redor.
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