domingo, 30 de julho de 2006

Setúbal

Ocupada desde o Neolítico, a Cetóbriga romana sempre foi uma zona de aproveitamento de recursos e comércio. O sal e o peixe foram produtos tirados ao mar que ainda hoje têm traços nos hábitos, casas, embarcações, terminologia. Interessante visitar a Estrada Romana do Viso, o bairro da Tróina (trróina, com dialecto local), saber que após o Terramoto de 1755, quando o estado quis proceder à reconstrução ela já estava desencadeada pela população local (vestígios ainda em ruas com estrutura medieval do século XVIII), sobreviver era necessário, não os escombros.

De autonomia e algum sofrer se fez a história desta população. Setúbal é hoje um pólo urbano em desenvolvimento, um pólo de atracção turística, mas também um centro de graves carências sociais. Fome, suicídios, prostituição, lenocídio, evasão escolar são assuntos em quase permanente debate político, alvo de intervenções desajeitadas/desadequadas por parte de grupos religiosos e ONGs.


A simpatia passa nas ruas, no entanto, pessoas calmas, atenciosas, fora do tempo e do sofrer, acolhedores e trabalhadores. O turismo é incentivado porque emprega, as bandeiras locais não são partidárias mas de sobrevivência, na direcção de um desenvolvimento que se pretende sustentado, custe o que custar. Novo terramoto, novo levantar dos escombros. Vai-se a Setúbal passear no Sado, ver os golfinhos, visitar os galeões do sal, conduzidos pelos Mestres sem idade e com perícia. Vai-se a Setúbal almoçar bom peixe fresco bem cozinhado, provar ou adquirir doçaria regional. Cultiva-se a divulgação e manutenção do património construído (Forte de São Filipe, Aqueduto, Convento de São Francisco) e cultural, nos ex-libris Bocage, Luísa Todi, Sebastião da Gama.

Os ataques seculares às riquezas trabalhadas continuam. Agora pretendem-se trocas justas e o fim de uma história de uma população cansada de produzir. Como uma vela desfraldada a pulso, finalmente, sem medo de ventos outros. O futuro como rumo, caminho único, sempre desconhecido. Sem olhar para trás.



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