segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Estrelas









"Certas estrelas são amarelo-limão, outras têm um rubor rosa, ou um verde ou azul ou um brilho que não se esquece. E sem querer alargar-me neste assunto torna-se suficientemente claro que colocar pequenos pontos brancos numa superfície azul-preta não basta."


Vincent van Gogh , carta a Theo, 1888.

Também as pessoas são todas diferentes e igualmente belas por o serem.
A questão não está em como somos, mas o que somos.
Ser pleno.

Qual o problema?

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Umberto Eco

"O que sou eu? Se digo eu, no sentido de Roberto de la Grive, faço-o enquanto sou memória de todos os meus momentos passados, a soma de tudo o que recordo. Se digo eu no sentido daquele algo que está aqui neste momento, e não é o mastro principal ou este coral, então sou a soma do que sinto agora. Mas o que sinto agora o que é? É o conjunto das relações entre presumidos indivisíveis que estão dispostos nesse sistema de relações, nessa ordem particular que é o meu corpo."

A Ilha do Dia Antes.

sábado, 12 de novembro de 2005

Poesia, irmã do cansaço...

"Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas.
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão -
Qualquer coisa assim
Como um perdão?"

Fernando Pessoa

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"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Álvaro de Campos

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Menino doido, olhei em roda e vi-me
Fechado e só na grande sala escura.
(Abrir a porta, além de ser um crime,
Era impossível para a minha altura...)
Como passar o tempo?... E diverti-me
Desta maneira trágica e segura.
Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
Desfiz trapos, arames, serradura...
Ah, meu menino histérico e precoce!
Tu, sim!, que tens mãos trágicas de posse,
E tens a inquietação da Descoberta!
O menino, por fim, tombou cansado;
O seu boneco aí jaz esfarelado...
E eu acho, nem sei como, a porta aberta!"

José Régio


domingo, 6 de novembro de 2005

Ainda no País das Maravilhas

"O Gato, ao ver Alice, apenas sorriu. Ela achou que ele tinha aspecto de ser boa pessoa. No entanto, tinha as unhas muito compridas e uma boca cheia de dentes: por isso achou que seria melhor tratá-lo com respeito...
- Gatinho Cheshire - começou Alice, timidamente, pois não sabia se ele iria gostar do nome; mas ele pôs-se a rir mostrando ainda mais os dentes. 'Bom, até agora ele parece estar satisfeito', pensou Alice, e continuou a falar: - Diga-me, por favor, a partir daqui, que caminho é que devo seguir?
- Isso depende bastante do sítio para onde queres ir - respondeu o Gato.
- Pouco me importa para onde - disse Alice.
- Então não tem importância para que lado vais - disse o Gato.
- Contanto que vá dar a qualquer parte - acrescentou Alice, explicando-se melhor.
- Ah, isso é que vais, de certeza - disse o Gato -, se andares o suficiente."

Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas

Lewis Carroll no País das Maravilhas

Comprei um livro. Gosto particularmente de Lewis Carrol enquanto autor (Alice no País das Maravilhas, Alice do Outro Lado do Espelho, A Caça ao Snark, Sylvie et Bruno), enquanto fotógrafo e enquanto pensador. Rompeu com demasiados standards não da sua época - usamos demais esta frase - mas de sempre, de hoje também. Fotografar crianças captando naturalidade, personalidade, expressões de simpatia, sorrisos, caras sérias, aborrecimento, sensualidade, desleixo, brincadeira, jogo. Não somos seres assexuados. Se é socialmente correcto apresentar as crianças com parâmetros de inocência, como paraísos perdidos, Lewis Carroll desconstrói o paraíso da infância e rasga a cortina atrás da qual temos acesso à crueldade, à antipatia, à personalidade, à inveja, à desconfiança, à sexualidade, ao inconformismo que nos acompanha no crescimento normal, seja qual for a circunstância social em que somos educados. A autora, Stephanie Lovett Stoffel, apresenta uma pequena história - não a considero bem uma biografia, mas mais uma relação do homem com a sua produção intelectual e artística - de Carroll, recheada de belíssimas imagens dos locais, das meninas, das cartas, das ilustrações, do próprio. Editorial Quimera, na colecção Descobrir.