sexta-feira, 27 de março de 2015

As doenças

Além do ternurento poema de António Lobo Antunes sobre o homem constipado, temos as doenças correntes que nos vão espreitando ao longo da estrada. Umas do corpo, outras da alma, algumas cansam, outras deixam-nos cansados, derrotados. Os tumores, esses anónimos gigantes que nos espreitam das paisagens mais primaveris, depois de pensarmos que tinha acabado o combate, eis-nos a levantar e a lutar de novo ou a parar porque incrédulos. Desastres, tristezas, só a morte. Enquanto combatemos estamos - mais ou menos - de pé. Mas incrédulos porque o tempo nos leva depressa de mais e aos bocadinhos e temos que lutar muito para que não nos leve a alma. Também Lobo Antunes documenta bastante gentilmente o seu percurso como doente oncológico. Todos somos príncipes, diz. Todos eram príncipes. Talvez sejamos espelho do príncipe que vemos e respeitamos no outro que talvez sofra um bocadinho mais, que talvez esteja um bocadinho mais expectante, que talvez, só talvez, parta um dia nas asas desse moínho que é, de facto, um gigante imbatível.