terça-feira, 17 de maio de 2011

Num dia assim.

Nem sol nem chuva, o tempo em torno apertado até doer e as árvores inclinadas. O meu gato certeiro por entre os papéis antes da chuva e eu sem distinguir ficção e real, escrita, som e nada. O dia como um filme, imagens em socalcos num percurso que não desenhei nem escolhi. Guardo as folhas para sair de casa. Confundo-as com as das árvores inclinadas pela tempestade. Talvez se as deitar pela janela o sol entre.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O gato que comia rosas

Na minha janela, o meu gato, meu, meu, meu, que possessivos, que imperiosos nos tornámos, tenta comer duas rosas numa jarra cheia de água e luz, onde arco-íris boiam afogados pela falta de sol dos dias agridoces.
(a que saberão as rosas?)
O trabalho noutras janelas defronte de mim, com  pensamentos em prioridade hedonista sobre dever e  prazos que me trariam paz.
Em Abril há flores amarelas nas traseiras da minha casa (meu, meu, meu, como se me quisessem arrancar a vida e esta defensiva fosse única). Nas traseiras, o velho moínho que já nem o vento mais forte faz girar. Suponho que há um momento em que enferrujamos de vez e nem a maior intempérie nos volta a fazer funcionar, nem os gritos do vento, nem os desejos da vizinha da janela pequena, nem as ameaças de Quixote, nada faz mover os mecanismos e vozes de nos embalar. Fora de tempo.
(caíram duas folhas da rosa pequena)
Em Maio, os espaços por preencher, os caminhos das papoilas, os vazios a encher de letras e as memórias definidas, bem demais, em xadrez, casa preta, casa branca, dia branco, dia negro, as pedras em que caminhamos e não nos cabe o presente quando somos sempre pequenos demais e as luzes dos anúncios a mandar acabar o dia já tão longe, no tempo em que os moínhos e as rosas e os gatos livres na rua de ninguém.
(de quem serão as folhas que caem)
Faz muito mais sentido sermos pétalas que folhas.