segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Dos blogs às redes sociais

Houve uma era dos blogs. Como historiadora, gosto de datar os processos, embora a sincronia não me confunda. Passei serões a escrever, ler e comentar textos, num processo produtivo e quase intimista que me marcou bastante, para o melhor e para o pior (tempo perdido, noites mal dormidas, olhos cansados). Quem não passou pelo fenómeno de alimentar um ou mais blogs e sobretudo de entretecer os seus pensamentos com desconhecidos com cuja escrita se identificava que levante o braço. Os portugueses escrevem e até, na sua maior parte, não escrevem mal de todo. Também não são deprovidos de espírito crítico.
Depois vieram fases piores da minha vida, ausências, tristezas, desilusões, cansaços, e quando acordei desse longo sono estava doente e os blogs tinham murchado. 
Do outro lado da pradaria nasciam as redes sociais via, sobretudo, Facebook, primeiro versão juvenil, depois versão extensa, alargado pela ascenção e queda de Farmville, um jogo que pôs muitos avós a jogar com netos às quintinhas virtuais. E tudo isso foi bom. 
Neste momento há um equilíbrio entre as minhas pesquisas no Facebook pelo estado de espírito ou novidades dos meus amigos, alguns jogos engraçados para descomprimir, algumas leituras mais sérias de grupos de trabalho e os outros fenómenos paralelos mais especializados: o Instagram, para fotografia, e Academia,edu - entre outros - para meios académicos partilharem as suas produções.
Isto da Internet tem destas coisas. Parte-se para comunicar, regressa-se com excesso de informação. E no entanto a opção é nossa e aprendemos isso na era dos blogs. Cada espaço que consideramos pessoal,  a sala internautica de cada um de nós, cada pegada que deixamos, cada rasto, são privados pela produção e pela vontade mas são de todos porque é tudo gratuito e tem aquelas condiçõezinhas que ninguém lê quando abre as contas... 
Privacidade precisa-se sempre, respeito também. Julgo que da era dos blogs para as circunstâncias de um mundo hiper-especializado e partilhado, nós, os adultos do início do século XXI, aprendemos essa primeira lição.