sábado, 30 de dezembro de 2006

...,2006,2007,...

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"I would like to discuss whether time itself has a beginning, and whether it will have an end."
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Stephen Hawking, The Nature of Space and Time

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Sem nexo

Novamente estrela do mar, princípio e fim, alfa e omega, menos infinito e mais infinito. Pensar demais, estar em branco, mãos que procuram, corpos frágeis, corpos doces, final de ano, final de alma, à espera de nada, querer a casa dos avós, abraços e colo, olhares de criança que se prendem em torno do mundo e vão de rasto, doridos. Questionar. Porque trará a vida os dias errados sempre quando precisávamos de outros? As mãos que nos tocam, os colos que nos seguram, as tocas de raposa.
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Cheira a eucalipto, o som da água que ferve - sempre lá dentro, não sabemos onde - os desenhos em três folhas e dois braços que caíram sobre uma cama soltos de cansaço. Abraços perdidos, anos de abraços perdidos. Cheira a eucalipto e é cedo demais para amar o que quer que seja, ama-se tudo, vive-se numa corrida, não se espera por nada, corre-se e agarra-se o que se quer muito antes que os braços.
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O branco inunda e fere e procuro sem porquê o fogo que falta para cair o edifício grande (branco deste lado) para rasgar as paredes que sobram e inundam como água todo o espaço que tínhamos para correr. Os braços continuam lá.
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Vistam-me de qualquer cor, dispam-me do mundo, quero viver agora, nos braços certos, na casa verdadeira, sem o branco forte demais, sem a dúvida da hora que chega, sem o coração muito pequeno para saber falar. E sempre uma mão cor-de-rosa de criança a pedir colo que nem sei se sou eu.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Se a mente a deixar ser...


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"E a cidade cá está para o entreter
Indiferente e fria, disposta a esquecer
Que a ansiedade é um minotauro
Que se alimenta de solidão
E que a ternura é uma bruxa
Que faz milagres
Se a mente a deixar ser..."

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Reflexões em Strings, Escher, Voando Sobre um Ninho de Cucos e Jorge Palma. Não tem que fazer sentido. Podemos traçar linhas coerentes dentro do caos, nós, os habitantes das margens. E sobreviver.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Movimentos no escuro



"Solta o cabelo, rapariga,

pois o riso não espera

e o resto não importa"

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A editora Relógio d'Água tem destas coisas. O resto não importa. Apostar em projectos arrojados, soltar o cabelo, que o riso não espera. José Miguel Silva poetou cinema, em título que se descobre no interior de uma capa sóbria, onde tudo está arrumado menos as palavras soltas. Os filmes escolhidos e os sentimentos semeados levam-nos a crer que a poesia é a única forma de expressão para comentar cinema. Muito bonito, em dias em que precisamos de crer em coisas belas e soltar os cabelos e a vida. Sobretudo, de nos reconciliarmos com as palavras.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Nem por ti, Rudolph



Se fosse lançada uma petição para libertar o Rudolph, quantas assinaturas teria durante o dia de hoje? Acontece que há PESSOAS que aguardam a nossa colaboração para ver os seus direitos garantidos. O militante nº 4480 assinou a Petição pela Acessibilidade Electrónica Portuguesa às 3:15 desta madrugada. Continuo a ver por lá muitos nomes de pessoas que conheço, com que me cruzo, com que trabalho, muitas pessoas directamente envolvidas, algumas sensibilizadas mas não ainda as suficientes. São precisas 6000 assinaturas. Bastaria portanto dirigir-me hoje com um portátil ao Colombo... Imagino que por lá passem nas próximas horas os restante 1520. Perderiam dois minutos a pegar num teclado, em nome dos direitos humanos? E outros dois a passar palavra a dois amigos? Talvez tente. Mas gostaria que assinassem por ter lido e ponderado. Boas Festas.

sábado, 23 de dezembro de 2006

Just around the corner

Pensei não voltar aqui até passarem estes dias tão estranhos. Mas a tentativa de vivência normal torna-se frustrada demais, a alegria forjada cerca-nos, multidões carregam o que querem e o que nunca irão olhar duas vezes, amam por obrigação do poder de compra ou de crédito, enquanto, num desespero de procura de sossego, tento tomar um café e ler o jornal, tento olhar o céu demasiado azul e demasiado sorridente, esquecer o frio que corta, que me gela as mãos enquanto acendo um cigarro caído no fundo da mala dos sonhos, que os sonhos nestes dias são outros.

É difícil escrever sobre o Natal. Deixou de ser um feriado religioso. Deixou de ser um festejo familiar, viva a sociedade do amor em que a velocidade da condução é datada e proporcional à obrigação de estar presente a tomar posse de territórios afectivos.

É difícil pensar no Natal não pensando nos sós e nos tristes. É difícil não criticar o consumismo. Mas também é difícil não exagerar nos nossos juízos. Na verdade, porque não hão-de famílias ver ou ser vistas pela árvore da Praça do Comércio? Pão e circo? Claro. Mas se mais nada lhes é dado e lhes apetece, porque teremos o intelectualismo barato de os criticar? Rituais, culturas, presentes e crianças, crianças e poesia, poderão nada significar para alguns mas se para outros servirem para sorrir, pois que sorria meio mundo. E será que esse meio mundo que sorri não chora por dentro, será que o frio está só nas mãos sem luvas, será que não dói mais sermos nós em verdade numa realidade alienígena?
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"(...) Ela, que para nós representava apenas a avó, tinha sido também a filha, tinha sido a irmã, tinha sido a esposa, tinha sido a mãe … No seu pobre coração, quantos lutos sobrepostos, quantas saudades acumuladas! Por isso, enquanto os outros riam e conversavam alegremente, a mão dela emagrecida e enrugada tremia de comoção ao tocar no copo, e dos seus olhos cansados despegavam-se silenciosamente duas lágrimas, que ela embebia no guardanapo enquanto a sua boca procurava sorrir e titubear palavras de resignação, de conforto, de felicidade. Essas lágrimas eram como a evocação do espírito dos ausentes e do espírito dos mortos para aquele banquete. A festa era então interrompida por silêncios graves, pensativos, durante os quais cada um se recolhia em si mesmo e olhava um pouco ao passado e um pouco ao futuro. (…) Só nós, as crianças, é que gozávamos nesta festa uma alegria imperturbável e perfeita, porque não tínhamos a compreensão amarga da saudade nem as preocupações incertas do futuro. Para nós tudo na vida tinha o carácter imutável e eterno. O destino aparecia-nos ridentemente fixado, como no musgo as alegres figuras do presépio. Supúnhamos que seriam eternamente lisas as faces de nossa mãe, eternamente negro o bigode de nosso pai, eternamente resignada e compadecida a decrépita figura de nossa avó, toucada nas suas rendas pretas, no fundo da grande poltrona. Não tínhamos compreendido ainda todo o sentido do Natal. (…) Não, a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude. O Natal é a festa das lágrimas para todos aqueles para quem ele não é a festa da inexperiência."
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A verdade é que são os frágeis que festejam o Natal de forma mais impune. Deixemo-los festejar. Não é por aí que vem mal ao mundo. Mas pela intolerância pode vir...
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Cartoon de Bill Waterson
Excerto de Ramalho Ortigão, "O Natal Minhoto" in Farpas Escolhidas.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Tempo de esperança


Natal próximo, encruzilhadas de sentimentos, xadrez em problema insolúvel - rei afogado? O que estará nas caixas embrulhadas em desejo?
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Tempos de luta, não de pausas, que a vida não se compadece. Sempre lágrimas para enxugar, colos para dar, confiar, acreditar, entregarmo-nos, ser pacientes, olhar as caixas de Pandora com a vida lá dentro embrulhada em laços que afogam ou conduzem, prendem ou libertam (Strings?). Esperar por um Natal que tarda (Nightmare before Christmas ?). Tim Burton lida bem com a morte, com as mortes. "No one is dead!" Surpresa. Tudo é real quando acreditamos. Sai da tela como na Rosa Púrpura do Cairo, o Amor em pessoa, no Natal ou talvez não. Quando esperamos mais, quando menos esperamos, quando damos sem esperar nada mais que não o deixarem que esperemos. Sempre que é preciso. Toda a vida, que menos não é possível.
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Quando se acredita que um dia de frio o Pai Natal chegue e nos aqueça a alma. Pode não ser no Natal. Pode ser quando o mundo quiser dar uma oportunidade a quem ama sem época e sem condições. Pode ser que sim. Pode ser.
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Não dá muito jeito escrever posts e fechar os olhos em maré alta. Esperar? Convençamo-nos todos que sim. Quando se espera, pelo menos as portas não estão todas fechadas e, crianças, podemos sempre pensar que se os pés e a alma não nos atraiçoarem no caminho frio do último dia de Outono, alcançaremos o branco e puro Inverno, seremos então abraçados numa manta quente.
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Por amor, sempre.
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Eu, espero...

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Manuel Gusmão

Indicado por mão amiga, textos irresistíveis, muito trabalho - que a arte dá trabalho, o ensino também. Textos irresistíveis...

" (...) porque ele tinha nos braços uma jovem menina desatada sobre um tapete que flutuava sobre as águas lentas e em quem o medo perdia de qualquer forma a sua compostura e ela apesar de tudo aprendia o destino de ser aquilo em que se deveria transformar e transformar, porque não há destino, ontem não a vi, mas tão-só este fazer-se como o que então se fazia, estava fazendo, sem que nenhum deles o soubesse bem. Este fazer-se nisto ou noutro continuando, mais solto, novo, triste e contente muito, perdido de si dizem um e outro, mas achado como que por acaso e persistência, sim, mesmo que hesitante, seguindo em seu voo e cavalgada pelos séculos instantâneos das pétalas de uma rosa: «há em ti algo que como que fecha e abre, abre e fecha e, tinha ou não tinha ele em seus braços uma mulher que crescia em beleza para sua tonta alegria? Tinha. E sabia isso? Talvez o soubesse mas não como pensa que o sabe agora, e é isso que interessa. Poderá afirmar-se que sabia e não sabia. Ela tinha-lhe dado um nome que seria o seu, que ele usava como quem se ouve chamado numa mágica montanha, mesmo se mais tarde era também por ela que vinha esse nome a soar como um vaso quebrado.ela tinha-o como um búzio ao ouvido, um indistinto rumor que lhe falava obscuramente do que ela não sabia, nem talvez soubesse que havia a saber. Nem era ali que ia aprender. Nisso perdidamente unidos. Vocês dois não estão sozinhos na escuridão, dizia o outro. Ela perceberia que aquilo ele estava falando e nisso lhe respondia, mas saberiam do que falavam? supor que nisso estavam começando a aprender aquilo de que não sabiam estar longinquamente falando. O que é maneira de dizer, porque neste momento não falam. Respiram apenas, lenta a mente."

Manuel Gusmão, Dois Sóis.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Hora do conto


Tarde já, hora do conto, pode ser oriental, em fuga, ao colo de um livro.
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Multidões de imperadores fazem compras de Natal, multidões esquecem multidões que deles precisam, multidões de gente crescida abafam os gritos de outros tantos pequeninos, tão pequeninos como a Liberdade de Quino e tão necessários como o céu azul ou as copas das árvores. Um quadro a vermelho sangue por onde fugimos quando não apetece mais.
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Gente a mais, gente a menos, sempre, por perto, tão dentro de nós. Gente estranha, como se noutro mundo. Sem amor.
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Quero acordar com um sorriso e acreditar na gente real e humana que acredita na beleza e beija o mundo com a sua vida.
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Quero acordar e seguir o caminho do aprendiz. Pintar o meu dia de cores de vida. Acreditar. Que só os Poderosos se afogam no mar das lágrimas que causam.
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Penso em Wang Fo. "Gente como esta não foi feita para se perder dentro dum quadro..."
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Marguerite Yourcenar, Comment Wang‑Fô fut Sauvé, Paris, Gallimard, 1979.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Verde oliva de flor nos ramos

Somos filhos da madrugada,
Pelas praias do mar nos vamos,
À procura de quem nos traga,
Verde oliva de flor nos ramos.

Navegamos de vaga em vaga,
Não soubemos de dor nem mágoa;
Pelas praias do mar nos vamos,
À procura da manhã clara.
(...) Onde o vento cortou amarras,
Largaremos p'la noite fora;
Onde há sempre uma boa estrela,
Noite e dia ao romper da aurora,
Vira a proa minha galera,
Que a vitória já não espera;
Fresca, brisa, moira encantada,
Vira a proa da minha barca.
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José Afonso, Canto Moço.
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Renascer, sempre, no tempo frio o calor é nosso, o tempo das flores quando o quisermos. Quebrar amarras é periódico, rumar a novas paragens não é necessariamente mau, pode ser uma descoberta. Sigo para Portalegre, o frio vai-me acompanhar. Vozes ao telefone acompanham-me também, acolhem-me já, trabalhos em curso, ser equipa é ser amigo e solidário. Vou descobrir o que não se vê pela mão de quem não vê da mesma forma. De quem ouve e canta e cheira e toca na flor dos ramos, que o essencial é, em definitivo, invisível. Os corações falam sem voz. De azul puro se vestiu o céu, bela manhã de Outono para os filhos da madrugada que aproveitam os dias. Bela manhã de Outono para, como em todas as manhãs em que temos força, virar a galera e rumar onde o coração nos leve.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Creio

"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
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Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é étero num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
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Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
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Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Ámen."
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NATÁLIA CORREIA, Sonetos Românticos, 1990.
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(obrigado, Luís Galego, é bom que nos façam lembrar as coisas importantes)

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

XIX=XXI

Também eu não sabia. Mas ao estudar os arquivos dos asilos de oitocentos e conhecendo algumas tristes realidades actuais cheguei a esta brilhante conclusão. Nunca fui boa a matemática, para grande tristeza do meu pai, e pouco tenho de racional. Infelizmente, e como agravante, parece-me que também fiquei com algum romantismo na educação, forte estigma. Acredito, assim, nas pessoas e na sua capacidade de melhorarem o mundo em que vivem. Também acredito no Pai Natal, na solidariedade, na inteligência emocional, na igualdade, nos direitos humanos e na Fada dos Dentes. Tenham pena de mim, desgostos diários atingem-me como bombas.
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Ao ler documentação diversa sobre os Asilos da Infância Desvalida, sobre Asilos-Escolas para Cegos, Surdos-Mudos e Loucos [era o termo] e ao ouvir atentamente desabafos vários dos nossos dias sobre as dificuldades de educação e integração de pessoas tão iguais a pessoas como qualquer de nós não encontro quaisquer diferenças [obviamente podemos considerar que uns têm os olhos verdes e falta de sentido de orientação e outros não andam ou não vêm, e também que alguns ficaram pela infância ou, como diz o meu amigo Ricardo "crescem, mas muito devagarinho"] .
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Por isso, claro, XIX=XXI ou XXI=XIX, que a ordem dos factores, neste caso, é mesmo arbitrária. Por isso cegos são conduzidos ainda hoje para ruas para onde não querem atravessar ou recebem esmolas na mão quando regressam de metro para casa, vindos da faculdade ou dos seus empregos. Encontram a entrada barrada em restaurantes e táxis quando acompanhados de cão-guia. Ou assumem a tolerância do esforço quando alvos de perguntas patéticas de profissionais da saúde em relação aos filhos como se lhes sabem tirar a temperatura...
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No meio disto tudo avançam as assinaturas na bendita petição. Mas continuam os websites abaixo do inacessível, continuam as escadas a saltar por cima das cadeiras de rodas, continuam as escolas a rejeitar crianças porque (...) e porque (...) e porque (...) não estão preparadas (=não querem).
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A equação é simples, o resultado directo, continuam a existir habitantes das margens, numa expressão que li num livro que adoro, As Crisálidas (voltarei a falar dele por aqui, espelha o que é uma sociedade desumana e prepotente em que as diferenças são consideradas falhas de identidade, nunca mais-valias).
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De que vale lutar pelo que quer que seja antes de se lutar pela informação e pela educação? Sem conhecimento não pode haver acção racional. Talvez não seja mesmo de romantismo que andamos a precisar. Em suma, o meu pai tem razão. A Matemática talvez dê mesmo mais armas que a História.

domingo, 10 de dezembro de 2006

Numa palavra como um fio

Numa, apenas uma, cortante, intensa, que acorde e tire os pássaros da memória, arranque o conforto do silêncio. Uma palavra única, quando o corpo pára, quando de dentro vem o grito que se não solta, inconformado. Uma palavra apenas num olhar, num toque, num cântico, num frio que passa e que dói, no tempo que já não é. Uma palavra que cai aos pés do desânimo no poço mais fundo de nós, no tronco mais escuro da árvore que se abraça porque mais ninguém perto. Uma palavra repetida e oca, vazia de tudo, uma falta, alguém que se perdeu pelo caminho de todos. Uma dúvida. Uma paixão. Um medo. Uma vida. Como um fio que ata o que se não disse e o que se não quis ouvir. Talvez uma ponte.

sábado, 9 de dezembro de 2006

Caminhos de paz


À mesma hora... Saída do Pessoal Operário da Camisaria Confiança e Mal de Espanha?
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Não é justo. Mas é bom ver que Aurélio da Paz dos Reis não está esquecido, que os ciclos da Cinemateca continuam a ter critério. Só não sei se me consigo clonar a tempo na terça-feira para ver o meu preferido dos preferidos, dividida, como apaixonada que sou por tudo o que me toca.
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Aurélio foi uma descoberta dos meus tempos de IADE, fotografia, cinema, irreverência, flores, idealismo, sensibilidade. Tudo o que cabe num homem com gosto pela vida e pelo mundo que tudo fez para mudar. Sempre em olhares pessoais, sempre com gosto pela inovação, sempre envolvendo demais o coração em todas as causas que vivia.
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Vale a pena ter o CD do Centro Português de Fotografia. Não há muita bibliografia publicada, nunca ninguém pegou nele - tanto quanto saiba - para estudar exaustivamente. Uma tese calharia bem. Fica o repto para os conhecedores...

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Petição pela Acessibilidade Electrónica Portuguesa

Há oito anos foi desencadeado um movimento sobre a primeira petição electrónica no nosso país – a petição pela acessibilidade da Internet portuguesa -, que deu origem à Resolução do Conselho de Ministros nº 97/99, de 26 de Agosto, estabelecendo regras relativas à acessibilidade pelos cidadãos com necessidades especiais aos conteúdos de organismos públicos na Internet.
No ano de 2007, Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos, em que Portugal assume a Presidência do Conselho da União Europeia, está disponível a segunda petição, seguindo as linhas gerais da secção 508 da Lei da Reabilitação (http://www.section508.gov) dos Estados Unidos, que inclui também a acessibilidade do software, equipamentos de telecomunicações, produtos de áudio e vídeo, equipamentos electrónicos de escritório e computadores, e da Lei italiana sobre Promoção do Acesso às Tecnologias da Informação para Deficientes (http://www.pubbliaccesso.it/english/) que define regras de acessibilidade para a Web, equipamento electrónico usado no trabalho, materiais educacionais usados nas escolas, nomeadamente software educativo multimédia.

Esta segunda petição tem como motes:

Legendas Ocultas
Descrição Audio
Interpretação Gestual
O Que Não Vê, Ouve
Comando Verbal

Já assinou?

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Sobre saltos


Há dias em que saltamos por cima da vida. No entanto ela está espelhada sob os nossos sonhos. Fechar os olhos, talvez. Capturá-la num abraço. Ou enquadrá-la, quando somos mágicos.

Fotografia de Cartier-Bresson, Paris, 1932.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Sobre a origem da poesia

"A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?"

Arnaldo Antunes, 12 Poemas para dançarmos.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Um sonho num sonho

Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te

que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?

Edgar Allan Poe


De boas intenções



Descansar, comer, dormir, serenar... Verbos desconhecidos quando a vida é uma luta, as causas uma paixão. Irrequietos seres nós, os que gostamos de viver, não sei se existem equilíbrios, eu não os tenho certamente, ou encontro-os em tudo o que faço, nos amigos que me preenchem e amam, nas palavras que leio e escrevo, nas pessoas com que trabalho, na aprendizagem que consiste em olhar simplesmente, depois de um dia cheio, para uma lua que cresce sobre o mar e faz crer que há um sentido para nos esgotarmos em ser e fazer os outros felizes. Tinha prometido descansar, só agora o posso fazer e estou a escrever para mim mesma que faz sentido ter estado acordada até agora a construir trabalhos e projectos e partilhas, enquanto fumo o último cigarro do dia e vejo o fumo subir pelo sono e sonho que se cruzam, penso no frio que me mantém acordada, nos dedos gelados que tocam nas teclas, no meu filho que acordará cedo de manhã e quererá ver o sol, no trabalho, sempre, na construção de vidas em esforço. Sorrio, inconsciente, corpo a querer cair no amanhã renovado e belo. Ao som do mar que não chega por aqui, só se vê, de uma nesga da minha janela e da minha alma.