sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Sem nexo

Novamente estrela do mar, princípio e fim, alfa e omega, menos infinito e mais infinito. Pensar demais, estar em branco, mãos que procuram, corpos frágeis, corpos doces, final de ano, final de alma, à espera de nada, querer a casa dos avós, abraços e colo, olhares de criança que se prendem em torno do mundo e vão de rasto, doridos. Questionar. Porque trará a vida os dias errados sempre quando precisávamos de outros? As mãos que nos tocam, os colos que nos seguram, as tocas de raposa.
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Cheira a eucalipto, o som da água que ferve - sempre lá dentro, não sabemos onde - os desenhos em três folhas e dois braços que caíram sobre uma cama soltos de cansaço. Abraços perdidos, anos de abraços perdidos. Cheira a eucalipto e é cedo demais para amar o que quer que seja, ama-se tudo, vive-se numa corrida, não se espera por nada, corre-se e agarra-se o que se quer muito antes que os braços.
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O branco inunda e fere e procuro sem porquê o fogo que falta para cair o edifício grande (branco deste lado) para rasgar as paredes que sobram e inundam como água todo o espaço que tínhamos para correr. Os braços continuam lá.
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Vistam-me de qualquer cor, dispam-me do mundo, quero viver agora, nos braços certos, na casa verdadeira, sem o branco forte demais, sem a dúvida da hora que chega, sem o coração muito pequeno para saber falar. E sempre uma mão cor-de-rosa de criança a pedir colo que nem sei se sou eu.

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