terça-feira, 31 de março de 2020

Em linha

Estamos mais do que nunca em linha. Falamos por telefone, por whatsapp, por messenger. Trabalhamos com o Zoom ou outras plataformas. No youtube assistimos a concertos ou peças de teatro. Reactivamos os nossos antigos blogs. Falamos por Skype. 
Estou em casa há 22 dias. Não abraço os meus irmãos nem os meus sobrinhos nem os meus amigos há 22 dias. Ontem fiz uma aula de Tai Chi online. Vai passar a ser regular, é bom porque não perdemos a prática e exercitamos o corpo dormente de estar sentado ou de andar pequenas distâncias, mesmo que se faça alguma ginástica básica ou se ande um pouco de bicicleta.
É com sofreguidão que adoptamos estas sugestões, que nos atiramos de cabeça, como se nos convidassem para fazer paraquedismo. É uma aventura nova dentro das paredes de casa e quase - quase - nos esquecemos de onde estamos.
Começo o dia por programar e orientar o que vai ser o almoço, a refeição em que falamos mais enquanto ouvimos os relatórios do dia sobre a pandemia. Antes e depois trabalhamos nos nossos computadores. O facto de sermos três adultos numa casa facilita porque avisamos se vamos ter video-chamadas de trabalho para não haver barulho. 
Há uma varanda com sol. Mesmo lá, o telemóvel leva a tal linha e, a olhar para o mar cada dia mais distante, falo com os meus amigos e familiares, consulto o twitter, respondo a emails. Ou desligo tudo e leio. Mas não é fácil porque o som das mensagens a entrar pelas páginas adentro e nós a ceder. É bom e um grande privilégio poder estar em linha. Mas é exigente emocionalmente.

segunda-feira, 30 de março de 2020

E chega a nós...

De uma ou outra forma, a estatística chega perto de nós. Depois de dois sustos próximos, estou muito preocupada com um amigo dos Estados Unidos que está em cuidados intensivos e ventilado desde ontem ao final do dia. Ler relatórios, ouvir estatísticas, ouvir conferências de imprensa, ver um  telejornal por dia... Mesmo a desgraça se torna rotina até nos bater à porta e acordar. Os Estados Unidos estão com uma política absurda e criminosa em relação aos cuidados que o seu povo merece numa situação como esta. Sem sistema de saúde alargado, mais deveriam ser os cuidados com quem não tem possibilidades de pagar testes ou assistência. Há uma moral e uma ética que passam os livros de Filosofia e deviam - deviam - ser aplicadas, sobretudo por quem tem mais responsabilidade, sobretudo pelos governantes, porque é neles, que, bem ou mal, as crises se centralizam. 
Felizmente o meu amigo tem possibilidades, seguro, assistência, apoio. Felizmente no hospital em que está a ser assistido havia ventilador disponível. Felizmente, felizmente. Mas como será a sua luta contra este vírus assassino? Ainda ontem, já no hospital, recebi dele a mensagem para ter cuidado que nunca se tinha sentido tão mal na vida. Dores, falta de ar até ao insuportável. É um homem relativamente novo, saudável tanto quanto eu saiba. Cego. 
Ontem adormeci tardíssimo a trocar mensagens de Singapura para Londres para Paris para Taiwan para Lisboa. Todos os do nosso grupo de investigação assustadíssimos e preocupadíssimos com ele. O mundo a abraçar-se de longe para tocar na esperança das suas melhoras. Ávidos de esperança.
Assim estamos, assim está o mundo. À espera de um milagre bom.

sábado, 28 de março de 2020

Expressar

Outro dia, estou em casa desde dia 9 de Março, portanto há 19 dias. Os picos dos meus dias são o reinventar de receitas para as muitas refeições que agora fazemos em família e que não podemos deixar que atinjam a saturação,mas a diversidade saudável. Outro ponto alto são os eventuais contactos com o exterior como as entregas. Hoje, aguardamos o Expresso. Todos nos levantámos cedo como para receber um parente que vem da Suíça e estamos em ânsias, com saudades mesmo, de um anónimo mensageiro de mota que nos venha entregar à porta da rua um jornal de que já temos a versão digital (visto que tivémos que o assinar) e de que iremos retirar logo o saco e as primeiras páginas de todos os cadernos, just on the safe side. 
Pensámos encomendar pão para a semana. Estamos muito entretidos a ver, como crianças num catálogo de brinquedos, as possíveis proveniências e modalidades de entrega. Talvez uns bolos para nos mimarmos em tempo de crise, embora eu tenha sempre bolos de fatia feitos em casa e façamos algumas vezes scones para o lanche. 
Pequenas diversões a um pânico real e a um tempo que não nos pertence. Só este pequeno espaço seguro e confortável, que se vai tornando mais confortável e psicologicamente seguro, da nossa casa.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Um chá e David Bowie

"There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile"

D. Bowie 

Faltam-me os sons da rua, o vento na cara, os carros, as vozes, o arredar de cadeiras na esplanada, o mar a bater nas rochas, os risos das crianças. Falta-me o espaço que tenho a mais em tempo. Um espaço onde pude explorar o mundo durante 53 anos - com algumas interrupções, sim, já tive alguns períodos de isolamento por saúde, mas nada como isto.
Quando algo falta procuramos um colo, neste caso um chá quente que me leve a navegar por um conforto psicológico que ajuda a um reencontro da paz. O segundo factor de paz é a música, hoje não estou a ouvir clássica, por agora estou a rever alguns clássicos como Bowie, the Doors, Pink Floyd, Queen, entre muitos outros, a reencontrar-me em letras antigas. Há que variar para o espírito se manter atento e não entorpecer em dias que são cada vez mais iguais, cada vez mais difíceis.
Cozinhar é algo que me distrai, assim como tratar da casa. Porque são tarefas a que normalmente não dedico tanto tempo e são mais físicas, implicam minúcia sem grande concentração.
Novas rotinas: quando sairão os números de hoje? Quando sairemos de casa amanhã?

quinta-feira, 26 de março de 2020

Às compras logo pela manhã...

Pela fresca, cá em casa só um é que sai, lista de compras feita por todos, começavam a apertar os iogurtes, os legumes, a fruta, o pão. O resto está controlado, apenas o essencial para depois nos mantermos por aqui. Desinfectar sacos de compras, lavar embalagens, arrumar, mudar roupa, arrumar, desinfectar de novo.
Todos os dias quatro refeições para três pessoas. Não podemos sair, há que manter a imaginação a funcionar - e a racionalidade - para que a criatividade se mantenha e também a saúde, com o sistema imunitário com o máximo de defesas possível.
Nunca escrevi tantas emails, tantas mensagens, nunca fiz tantas chamadas de vídeo, Deus abençoe os meus amigos e a minha família, nunca troquei tantas fotos e vídeos. Necessidade de estar junto. Necessidade de abraçar de longe. De saber os outros bem.
Somos um bicho comunitário. Não fomos mesmo feitos para viver sós.
Com os ingredientes que temos...

quarta-feira, 25 de março de 2020

Esperar/desesperar

As esperas são assim. Algo de nós parado ou com formigueiros de reagir. Algo de nós impaciente, ago de nós revoltado. Não é um descanso escolhido ou merecido, é um não-descanso forçado, confinado. Temos que nos enfrentar diariamente, e aos que partilham casa connosco. O espaço não será tão proximamente o nosso. Será o NOSSO plural. Temos que encontrar dentro de nós um ponto de fuga, a bem da nossa sanidade e da dos que nos rodeiam. Criar a harmonia interior para transmitir a paz aos outros. O/s outro/s nunca foi tão importante porque passou/passaram a ser as únicas pessoas do mundo com quem contactamos, a bem de todas as outras pessoas do mundo.
É estranho e belo sacrificarmo-nos pelos outros e por nós mesmos. Tem algo de dramático evidentemente mas muito de aprendizagem pessoal. É um caminho com um fim, com um fito, com um desejo.
Movidos pela força desse desejo que tudo fique bem, fazemos ginástica de manhã, tomamos um chá à janela, arejamos e arrumamos a casa, programamos as refeições do dia, sentamo-nos ao computador. O plural não desarreda de mim e estou a falar no singular. Passámos a ser tanto nós que o eu ficou muito pequenininho num canto, em reserva, para quando puder voltar a ser.

terça-feira, 24 de março de 2020

Uderzo, as mortes e as mortes.

Parece deveras estranho chorar-se alguém numa altura da nossa história em que centenas, milhares de mortes todos os dias. Porque destacar alguém em especial? Mas a verdade é que os nossos sentimentos e o nosso imaginário têm a sua sensibilidade própria e há pessoas que, pelo seu trabalho e criatividade, pelo seu génio, fazem parte de nós. 
Recito os álbuns de Astérix sem hesitação desde pequena. Foi dos primeiros motivos de riso em família. Foi uma proximidade com os meus irmãos, mais velhos que eu, porque li cedo e era algo que partilhávamos. Os meus pais, sobretudo o meu pai, adorava. Sou historiadora e apreciadora de banda desenhada desde cedo: são álbuns de excelente qualidade. Quem queira apreciar ainda melhor, leia no original. 
Lamento a morte de Uderzo como lamentei a de Goscinny como lamento a de tantos criativos que me construíram o pensar. Porque somos muito esculpidos pelo que lemos, e porque no que lemos nos refugiamos em tempos de guerra como o que agora vivemos. Uderzo estava a ajudar-me - vai continuar - a passar esta quarentena, a mim e a quantas mais pessoas pelo mundo? Merece, sim, as nossas lágrimas e as nossas orações, mesmo quando nós nas trincheiras, mesmo quando o mundo a desabar. Porque, apesar de tudo, calha sempre uma citação em latim dos piratas e sorrimos...

segunda-feira, 23 de março de 2020

Intervalo

Há sempre intervalos. Ontem foi dia de intervalo de escrita pessoal. Estamos a viver uma pandemia e há ocorrências, há sustos. Logo quando nos estávamos a habituar a estar em casa e a viver gentilmente uns com os outros veio um pedido de socorro de uma das nossas casas de apoio. Felizmente não foi nada de grave, felizmente nada que não se resolvesse, felizmente nada de COVID. Mas relembrou-nos como esta pandemia é cruel porque não podemosa abraçar as pessoas que amamos, porque não lhes podemos acudir directamente, porque os idosos são os mais frágeis perante esta situação e também são os mais frágeis psicologicamente. Certo que há uma camada de idades que continua a ir à rua e fala como se D. Quixote e que contra eles nada pode. Mas no fundo estão apavorados. Apavorados. Temos que apoiar os nossos idosos. Temos que os ligar às tecnologias, têm que falar connosco todos os dias, têm que nos ver, têm que receber emails com fotografias dos netos e de flores e de arco-íris e músicas bonitas. Temos que os lembrar que estamos aqui na mesma, mas de outra forma. E estamos aqui na mesma. Só um pouco mais cansados...

sábado, 21 de março de 2020

Primavera

"Primavera que Maio viu passar
Num bosque de bailados e segredos,
Embalando no anseio dos teus dedos
Aquela misteriosa maravilha
Que à transparência das paisagens brilha."

Sophia

Sophia tem sempre razão. Aquela misteriosa maravilha é a vida. Maio é onde queremos chegar com o seu brilho. Há sol na minha janela hoje (tantas janelas, tantas mais quanto os dias que estou encerrada). Nuvens, mas sol. Provavelmente a Primavera começou ontem, no dia oficial mas a minha Primavera começa hoje. Devo dizer que o Inverno é a minha estação favorita. Nada como um belo dia de Inverno com o céu muito azul e o frio na cara. Mas a Primavera é como uma criança que nos conquista. É o renovar, é, esperemos, a esperança de novas realidades.
Tenhamos esperança nesta Primavera que por aí chegou mascarada de nuvens, pode ser que nos traga dores de crescimento mas depois a serenidade.

sexta-feira, 20 de março de 2020

A Brave New World

Hoje de manhã tive uma entrega da Nespresso. As lojas fecharam rapidamente quando começou a contaminação e tivémos que fazer logo um pedido online para não correr o risco de ficar sem cafá, algo reconfortante e de que todos gostamos cá em casa.
É mesmo a Brave New World. Senti-me num filme de ficção científica. Um senhor de máscara no meu visor de segurança a anunciar uma entrega, eu a pedir paciência e um bocadinho de tempo para calçar os sapatos de rua, descer no elevador cheia de nojo da respiração dos outros ou de me encostar ao que quer que fosse. A senhora que limpa a escada estava justamente no rés-do-chão a desinfectar o outro elevador. "Bom dia". À porta, o rapaz das entregas, com ar de medo. Confirmou o nome e a encomenda, assinou ele por mim para eu não tocar em nada a não ser na caixa, foi embora. Entreguei o saco das cápsulas recicladas. 
Regressei ao elevador. A senhora que limpava o patamar agora, sorriu de novo. Tem, de certeza, mais de 60 anos. "Como está?" "Vamos andando o melhor que podemos!" Subi no elevador em que tinha descido. Cheguei a casa, tirei os sapatos à entrada, coloquei-os na varanda, retirei as caixas de café da caixa de cartão, dobrei-a e foi para o lixo logo. Lavei as mãos e passei-as por desinfectante. Ainda me sinto suja e como se tivesse saído de uma enorme aventura cheia de passos para completar. 
***
Fiz Qigong e estou a tomar um chá com mel. Aqui em casa há videoconferências numas divisões, pessoas na varanda a tomar café noutras. O gato, indiferente a tudo, está na minha cadeira. Teve que sair para eu escrever e agora dorme na sua cama, ao meu lado. Penso, sempre, em Itália e nos amigos que lá tenho. Dizem que começou a Primavera mas está um dia de chuva triste. Amanhã, pode ser que venha o sol.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Cinza

Dia cinzento, o primeiro do estado de emergência, Li no Twitter que estamos dedilhando a lira enquanto Roma arde. Não sei se é assim. Nero tinha a coragem dos inconscientes. Temo pelos que amo, temo por mim. De qualquer forma corre um vento ágil e suave nas minhas janelas e o meu gato mia irritado com as indecisões humanas. Tenho que ler, tenho que escrever, trenho que transcrever.
Ontem estive em contacto com muitos mais amigos, hoje logo de manhã a mesma coisa. O mundo na palma da mão, nunca carreguei o telefone tantas vezes. As pessoas estão unidas, querem o bem dos outros. Irrita-me bastante a inconsciência dos Trumps e dos Johnson deste mundo, expondo os seus povos ao que não merecem viver. Itália continua em drama. Esperemos que por cá o estado de emergência baixe a linha de crescimento do contágio. Esperemos que as pessoas cumpram. Não custa? Custa, sim, e eu estou habituada a trabalhar em casa. Claro que custa. Mas o preço é a vida, nossa e dos outros, Não há propriamente escolha. A ética não é só para ser teorizada, é para ser vivida.
Hoje é o dia do Pai e falta-me o meu.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Amigos

Nos últimos dias tenho falado com muitos amigos. Ter muitos amigos é uma das melhores coisas que a vida nos pode trazer. Neste momento tenho saudades de todos eles, preocupação por todos eles. Estão bem, alguns em casa, alguns a trabalhar. Alguns são pessoas de risco face ao vírus, outros são pessoas mais saudáveis e num quadro de bastante possibilidade de passar bem por esta crise sanitária.
Hoje de manhã compras de carne, legumes, fruta, pão e iogurtes. Poucas pessoas - tem que se ir cedo - tudo calmo, poucas faltas (algumas... areia para gatos, sal grosso, detalhes pequenos em prateleiras que já andaram bem mais vazias).
Há que organizar o trabalho em casa, as refeições, revezar a vez na varanda com sol e vista para o mar, revezar a vez na bicicleta de exercício.
Tenho dois livros sem ser de trabalho em leitura, daqueles que achamos que nunca vamos ter tempo para ler. Tenho um trabalho de ponto de cruz a meio.
Tenho sono porque hoje foi a primeira noite em que não dormi bem. Adormeci tarde e sobressaltada e acordei cedo.
Hoje faz anos uma amiga que não irei abraçar.
O Presidente da República, à noite, falará ao país, apostaria que para impor o estado de emergência. Suponho que inevitável, desde que salve vidas será bem vindo.
Alguma ansiedade entrecortada pelas incoerências do meu gato e alguns telefonemas e mensagens amigas com humor.
Assim estamos. Há 15 dias em casa (eu).

terça-feira, 17 de março de 2020

Morte

Ontem morreu o primeiro Português infectado pelo Coronavírus. Em situações de epidemia/pandemia a morte salta em nosso torno, todos aguardávamos ansiosos, estranhamente ansiosos, se esta notícia viria, quando, inevitavelmente, viria. Todos, como nas antigas epidemias em que as pessoas se fechavam em cidades, em castelos, em isolamento, faziam a festa, criavam, escreviam, pintavam, fugiam de todas as maneiras ao inevitável da condição humana. Todos repetindo esta desesperada perseguição da mãe História, da morte sobre os humanos, seja sob que forma seja, mas mais assustadora, sempre, quando anunciada ao nosso lado. RIP.

segunda-feira, 16 de março de 2020

Quinze dias

Com coronavírus em Portugal. Comecei a manhã por fazer exercícios de Qigong. Depois a contabilidade da casa. Preparo agora o meu trabalho da faculdade, tenho uma revisão de um trabalho para fazer e um paper. Tenho transcrições para fazer e dados para começar a tratar.
Parou de chover. O meu gato requer a minha atenção. Há uma nota de aflição no ar, os historiadores sabem da imprevisibilidade das coisas. Apetecia-me sol, apetecia-me um campo com flores, apetecia-me respirar fundo e que tudo tivesse passado. Os idos de Março foram ontem, os cuidados continuam.

domingo, 15 de março de 2020

Domingo

Se quiser ir à Missa, que a veja online. Inédito. Acabo de falar com os meus antigos colegas de faculdade, chegando à conclusão que sim, os historiadores sabem - infelizmente - destas coisas. A questão de estarmos no campo ou pela cidade também veio à mesa da família. A salubridade e liberdade do campo é incomparávelmente mais apelativa mas os meus sogros moram ao nosso lado e precisam de apoio. Por outro lado não se sabe quando e como entraremos em quarentena - que me parece inevitável. Estão a sequenciar o genoma. Não há datas para nada, as famílias em casa, os frigoríficos envaziam à velocidade da luz, É preciso pensar na ração para os animais, na areia do gato. É preciso pensar em tudo mais vezes, com mais cuidado e com atenção aos inesperados. Sou de história, sei que eles acontecem. Prevenir. Vigiar (não punir nem ser punidos). Domingo. Vou procurar um filme para ver.

sábado, 14 de março de 2020

O COVID-19 e os regressos.

Quase quatro anos depois... Releio as minhas palavras de fecho do post anterior e chego à conclusão que não sabemos de nada dos nossos dias. Como está o mundo em 2020? Uma pandemia de Coronavírus tem meio mundo em quarentena e a outra metade para lá se encaminha. Muitos mortos, muitos infectados, alguns - felizmente - recuperados. Não há vacina. 
Para epidemias e pandemias não há como médicos para saber e historiadores para analisar. Muito trabalhámos sobre dados de tifo, cólera, febre amarela, pneumónica. Mas agora somos nós que fazemos parte dos dados. São as nossas famílias, os nossos amigos, o mundo cresceu, tornou-se global, falo quase diariamente com amigos de todo o mundo. 
Somos nós, sou eu, como tantos outros, que estou em quarentena porque sou de um grupo de risco (coração + hipertensão  + autoimune). 
Falamos ao telefone, usamos as redes sociais, ouvimos palavras que nos soam estranhas. Como se tivéssemos acordado num casulo, num corpo de outrém, noutro tempo e espaço.
Revemos as dispensas, os medicamentos, revemos as notícias dos que amamos, registamos pensamentos, voltamos à escrita infantil dos blogs, diários sem chave, idealistas. Trabalhamos com uma concentração estranha, falsa.
Só quero que isto acabe - sentimento global. Voltarei. Vou aqui à divisão do lado fazer o almoço.
Tão pequeno e tão grande o nosso mundo por estes dias. Que não nos falte a esperança.