terça-feira, 24 de março de 2020

Uderzo, as mortes e as mortes.

Parece deveras estranho chorar-se alguém numa altura da nossa história em que centenas, milhares de mortes todos os dias. Porque destacar alguém em especial? Mas a verdade é que os nossos sentimentos e o nosso imaginário têm a sua sensibilidade própria e há pessoas que, pelo seu trabalho e criatividade, pelo seu génio, fazem parte de nós. 
Recito os álbuns de Astérix sem hesitação desde pequena. Foi dos primeiros motivos de riso em família. Foi uma proximidade com os meus irmãos, mais velhos que eu, porque li cedo e era algo que partilhávamos. Os meus pais, sobretudo o meu pai, adorava. Sou historiadora e apreciadora de banda desenhada desde cedo: são álbuns de excelente qualidade. Quem queira apreciar ainda melhor, leia no original. 
Lamento a morte de Uderzo como lamentei a de Goscinny como lamento a de tantos criativos que me construíram o pensar. Porque somos muito esculpidos pelo que lemos, e porque no que lemos nos refugiamos em tempos de guerra como o que agora vivemos. Uderzo estava a ajudar-me - vai continuar - a passar esta quarentena, a mim e a quantas mais pessoas pelo mundo? Merece, sim, as nossas lágrimas e as nossas orações, mesmo quando nós nas trincheiras, mesmo quando o mundo a desabar. Porque, apesar de tudo, calha sempre uma citação em latim dos piratas e sorrimos...

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