sexta-feira, 20 de março de 2020

A Brave New World

Hoje de manhã tive uma entrega da Nespresso. As lojas fecharam rapidamente quando começou a contaminação e tivémos que fazer logo um pedido online para não correr o risco de ficar sem cafá, algo reconfortante e de que todos gostamos cá em casa.
É mesmo a Brave New World. Senti-me num filme de ficção científica. Um senhor de máscara no meu visor de segurança a anunciar uma entrega, eu a pedir paciência e um bocadinho de tempo para calçar os sapatos de rua, descer no elevador cheia de nojo da respiração dos outros ou de me encostar ao que quer que fosse. A senhora que limpa a escada estava justamente no rés-do-chão a desinfectar o outro elevador. "Bom dia". À porta, o rapaz das entregas, com ar de medo. Confirmou o nome e a encomenda, assinou ele por mim para eu não tocar em nada a não ser na caixa, foi embora. Entreguei o saco das cápsulas recicladas. 
Regressei ao elevador. A senhora que limpava o patamar agora, sorriu de novo. Tem, de certeza, mais de 60 anos. "Como está?" "Vamos andando o melhor que podemos!" Subi no elevador em que tinha descido. Cheguei a casa, tirei os sapatos à entrada, coloquei-os na varanda, retirei as caixas de café da caixa de cartão, dobrei-a e foi para o lixo logo. Lavei as mãos e passei-as por desinfectante. Ainda me sinto suja e como se tivesse saído de uma enorme aventura cheia de passos para completar. 
***
Fiz Qigong e estou a tomar um chá com mel. Aqui em casa há videoconferências numas divisões, pessoas na varanda a tomar café noutras. O gato, indiferente a tudo, está na minha cadeira. Teve que sair para eu escrever e agora dorme na sua cama, ao meu lado. Penso, sempre, em Itália e nos amigos que lá tenho. Dizem que começou a Primavera mas está um dia de chuva triste. Amanhã, pode ser que venha o sol.

Sem comentários:

Enviar um comentário