domingo, 14 de dezembro de 2008

Pelas ruas

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Ricardo Reis


O Natal vai ser frio, mas embeleza-o já este céu azulão e limpo, acabado de estender. Lisboa cheira a Inverno e as pessoas, se as procurarmos bem, até se encontram. Há uma feira do livro na Gulbenkian e concertos por toda a cidade, os Violinhos andam aí e que bem tocam e melhor sorriem aquelas crianças. Nos cemitérios há flores compostas a par de outras levadas pelo vendaval. Encontram-se muitos cabelos brancos com sorrisos, o que é sempre bonito de ver. Nas farmácias vendem-se xaropes, nas mercearias, chocolate em pó e bolo rei. Perto de casa dos meus pais, o louco de cabelos brancos e grande arba, como um Pai Natal que caíu do trenó, grita pela humanidade. Não cheguei a perceber se o ninho era na árvore ou no candeeiro, mas o pássaro parecia feliz. Amanhã é nova semana e as ruas ficarão quentes com os figurantes do costume e os seus fatos indexados à actualidade. Na televisão, noto que o Benfica perdeu, a Esquerda reuniu e o Alberto João quer invadir o continente. Talvez faça sopa de peixe para o jantar enquanto medito em planos para mudar o mundo. Honestamente, somos sempre um bocadinho mais felizes do que fazemos crer a nós mesmos.

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