domingo, 17 de maio de 2015

Viver perto do mar

Em desfado, em demanda de outras eras, de outras sortes, uma gaivota grita na minha janela recados de um além ou de um porvir porventura esquecidos ou fantasiosos. O mar, essa força, essa potencia, que nos leva o pensamento gelado para uma corrida defensiva de um quotidiano fácil. O mar, que recua se avançarmos ou que nos pode arrastar se lhe virarmos as costas em desrespeito, que o destino fada os incautos a desgraças certas e mesmo os cautelosos não estão livres dessa prisão do imprevisível. Grita a gaivota e foge ou regressa, conforme eu lhe diga adeus ou a acolha como uma dor maternal aceite pelo processo de estar que compete aos vivos. Ouço-a e estou grata pela maioridade das minhas memórias e pelo mar que me puxa e pelas gaivotas que me fazem levantar a cabeça. Mesmo, sobretudo, hoje.

Sem comentários:

Enviar um comentário