Andamos todos a dormir? Goscinny retratou brilhantemente em Astérix Legionário o que se passava (passa) em determinados serviços. Há trabalhos desgastante, sobretudo os de atendimento público. E todas as pessoas têm mais ou menos habilitações e/ou jeito para o seu ofício. Claro. Temos que ser compreensivos. Óbvio. E pacientes. Certo.
Excepto quando se trata de lidar com a mais absoluta das incompetências, amorosamente associada a racismo, xenofobia, estupidez, em suma. Aí vale o pontapé na porta.
Os portugueses têm a memória curta, precisarão porventura de um upgrade. Recordemos as saídas do país durante o Estado Novo, em que refugiados políticos precisavam - e foram, muitas vezes - bem acolhidos noutros países, noutros regimes. Respeitando as suas ideias e dando-lhes a possibilidade de sobreviver em dignidade, não deixando de ser eles mesmos.
Recordemos igualmente as saídas de portugueses que vagaram localidades para sobreviver e fazer sobreviver as suas famílias, as idas a salto para França nos anos 60, as dificuldades na obtenção de documentação, de aprendizagem da língua, as vidas de trabalho duro, os momentos de fome, saudades e desespero.
Pensemos agora, como num exercício, em como somos todos bonzinhos quando nos autopromovemos e reenviamos emails para os nossos 50 contactos para que alguém apoie a criança que precisa de um transplante de fígado há cinco anos e continua com a mesma idade. Como somos todos bonzinhos quando num café enchemos o ego ao comprar um pãozinho (bolos não, que fazem mal, filho) a uma criança que nos aborda. Em público, claro, para contar à família ao jantar enquanto se vê a novela e manda calar os filhos que não querem ouvir autoelogios fúteis mas talvez (talvez) um pequeno abraço, uns minutos a fazer um puzzle no chão.
Somos, pois, todos, fantásticos. É uma casa portuguesa, claro. Todos são bem acolhidos. No entanto...
Continuando o nosso percurso, pensemos numa manhã de arco-íris em que alguém que tem uma certificado de residência legal e trabalha no nosso país se dirige ao Ministério da Educação para solicitar a equivalência a um curso de enfermagem feito fora da Comunidade Europeia.
O percurso é digno de um diagrama de fluxo, eventual tema para doutoramento em Gestão: do Ministério da Educação para a Direcção-Geral do Ensino Superior, de lá para a Ordem dos Enfermeiros, da Ordem para três Escolas de Enfermagem em sequência, seguidas dos Serviços de Recursos Humanos do Ministério da Saúde e voltando a um departamento do Ministério da Educação. Que azar. Só atendem vozes às segundas, quartas e sextas e pessoas às terças e quintas. Que maçada, volte para a semana, aqui, ao Gabinete do Centurião das Calendas.
Claro que se estiver a passar fome entretanto e precisar de trabalhar tem sempre a hipótese de ingressar na função pública portuguesa. Para tal, dirija-se às Informações, eles informam...
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