domingo, 17 de setembro de 2006

...e anjos


Ouço Quarteto com Guitarra em Ré Maior de Haydn, leio Germinal de Zola, procuro paz de um fim-de-semana intenso (serão as nossas vidas tão diferentes que não amemos viver anos numa hora sempre que possamos?).

Um anjo trouxe-me paz, cabelos loiros, discreto, num canto da pintura, pintado lá como ilegítimo pela mão de um Leonardo, aprendiz dos deuses, o dos olhares e silêncios e sorrisos mais claros que enigmáticos, afinal, talvez seguros. Pintamos sempre num quadro que não é nosso, aprendemos a arte da intromissão doce no mundo de todos, corremos para um espaço desejado num tempo distraído, caem caracóis loiros de uma cabeça contemplativa de criança serena - não o são todas? - e apetece passar por lá as mãos-cheias de ideais que nos encharcam e desassossegam, este verbo que tanto sinto e que rima com viver e com objectivo e com caminhos.

O meu anjo loiro está quieto no seu quadro, tinta de séculos, olhar de hoje, sabedoria dos velhos, eu olho admirada a sabedoria da visão que tem de uma pintura em que participa, e aprendo a ouvir mais a sua voz doce em Haydn e a ler mais utopias, a amar mais a vida que sorri sempre nos olhos de quem sabe o que quer. Eu, só quero aprender, não sei ser anjo, não sei ser perfeita, ainda preciso de mãos que me ajudem a atravessar ruas, de sonho em sonho, em paz.

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