Sonhei acordada, enlevada pelo fumo do cigarro, na varanda pequenina que abre o mundo grande ao meu, que a brisa me trazia um outono precoce, reforçado pela dança das folhas de linhas que pequenas mãos desajeitadas colocam num dossier, pasta semeada desde Julho no seu sossego, a bocejar ainda de acordada em brusquidão para tais preparativos. Chegava então o outono e as folhas eram cheias de letras, as do chão dançavam, perdidas de amores pelo vento que as despia das árvores tão verdes ainda hoje. Doce vento apaixonado que não as deixa tocar na calçada quase molhada das lágrimas da estação nova, ameaça de pézinhos que correm pela rua para a escola, o cheiro a lã a aterrar na areia da praia, com o corpo do livro a proteger-nos do vento e ainda bem que as pessoas se foram - quase todas - embora. Levaram o ruído e deixaram o mar mais frio. Cabem os sonhos por aqui, tempo de rodopios e desejos, de deixar cair o torpor do verão quente e pegar na vontade de caminhar com os cabelos a namorar o vento, em volta das folhas doidas de ciúme que giram pelo fim da tarde, já não abafado o ar como hoje, já não o cheiro de flores a secar, sumos de laranja trocados por chás, na minha esplanada amarela, perto de casa, tão perto como tudo o que queremos que seja está. Como agora me apetecia mesmo, mesmo, o Outono que chegasse apressado e me envolvesse.
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