sábado, 5 de agosto de 2006

Lugares

É que não é fácil. Os fios puxam-nos para onde queremos estar ou para as procuras a que somos levados. As amarras e cercas quebram-nos memórias e sonhos. O mundo dos homens especializou-se maquiavelicamente em nos criar com doçuras de avó num jardim belíssimo de memórias, histórias e afagos. Quando nos começamos a sentir confiantes temos já - desgraça - altura para ver as cercas, o outro lado, as estradas que não se atravessam, os sentidos proibidos.

Do mundo, o espaço de segurança e de aparente liberdade que nos é oferecido é demasiado ténue. Aqui tens o mundo, só para ti, amplo, ajardinado. Cuidadosamente, mostram-nos cada flor, fazem-nos escutar cada canto de pássaro livre. E depois enjaulam-nos. As flores murcham, os pássaros estão numa qualquer gaiola.

As casas, como as coisas, passam a ser menores porque a perspectiva muda. Já não podemos comer os restos da massa do bolo porque a higiene aparece como como um estúpido dever. Nunca mais correr a ver um nascer de sol porque o trabalho é duro e estamos cansados, vê-se na internet, que giro, que giro.

Os espaços ou são de alguém (os caminhos são sempre de alguém...), deve haver poucos sítios no mundo a que chamemos nossos, mundo dos homens com fronteiras por dentro e por fora, fronteira cada um de nós para o próximo.

É preciso libertar, quebrar amarras, deixar as crianças cair quando brincam, deixar o sol queimar a pele, pisar a relva molhada sem medo que constipações do séc. XXI que nos conduzam a aprendizes de farmacêutico esquizofréquinos.

É preciso que cada casa seja um lar (local central, onde o fogo acolhedor reunia os que sabiam partilhar).

É preciso que os caminhos se abram, no mundo dos homens.

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