quinta-feira, 22 de junho de 2006

Madrugada

Não há silêncio na madrugada. À primeira ponta de sol, os pássaros acordam o mundo, os coelhinhos fogem para as tocas, os candeeiros aguardam os cuidados do acendedor de dias.

Os velhos moínhos de água enferrujados dançam com o vento, amuados por não dormirem mais, incomodados com as casas que vão abrindo os olhos. O vento brinca mais ainda, cantando, forte, despertador de almas, provocador.

As manhãs são sempre sózinhas, boas para caminhar, o mundo está ainda inconsciente, os homens dormem, a natureza sobrepõe-se enquanto pode.

"Sozinha, a Manhã levaria horas para iluminar o sol, mas quase sempre o Vento, soprador de fama, vem ajudá-la. Por que o bobo faz questão de dizer que estava passando ali por acaso quando todos sabem não existir tal casualidade e sim propósito deliberado? Quem não se dá conta da secreta paixão do Vento pela Manhã? (...) Quem sabe as gerações futuras lutarão contra o visível e o fácil, exigindo, em passeatas e comícios, o escondido e o difícil."

Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Uma História de Amor.

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