segunda-feira, 19 de junho de 2006

O dia seguinte

Já estamos no dia seguinte e nem dei por isso. A trabalhar o tempo passa depressa e entre programação e contactos on-line e telefónicos com amigos e colegas, tudo passa rápido. Cada pessoa que connosco fala traz uma ligação directa a um espaço ou um tempo diferentes. Como num arco-íris, misturam-se as cores e os sons das memórias, as ligações do nosso motor de busca interno são fortes e eficazes.

Cada peça do nosso puzzle tem consigo novas imagens que se multiplicam ao infinito, livros que partilhámos, pensamentos e conversas várias, vivências diversas. Partilhar é um verbo que uso muitas vezes porque faz parte de mim e da parte de mim que faz parte dos outros.

Quando o cansaço nos puxa, o aproximar da hora de levantar a caminho cada vez mais rápido sem que tenhamos passado pelo estádio do sono e da paz, é difícil ser produtivos. Mas podemos sempre ser afectivos, que é uma palavra tanto mais bela.

Todos os dias passo em sítios tão familiares que se tornaram transparentes. Sonho agora prematuramente com a manhã seguinte, com o abrir rasgado das janelas que sempre procurei e que tanto gosto, com o ar fresco da manhã a entrar na casa e na alma, com o caminho de Lisboa, as minhas músicas, a minha voz como de uma estranha, o aqueduto a entrar pelas janelas do carro com um violinista de sinal de trânsito e dois vendedores da cais. Depois os hábitos, o estacionar junto da terra e da relva - odeio parquímetros, é proibido proibir - o dar bom dia, mais que moedas, ao senhor que desespera para que eu deixe o carro direito, sem rodas no passeio, como se eu me preocupasse muito com isso, que me deseja um bom dia (a primeira pessoa que me deseja bom dia fora de casa). O dia corre, à tarde sei que vou entrar noutro momento forte, cheio de crianças a sair quando toca a campaínha das 17:30, tantos, tantos, tantos, beijinhos de alguns, saltos selváticos para o colo de outros, o meu filho, os meus sobrinhos queridos, os amigos deles. Apertos de mão sinceros de professores que gostam de o ser. Levar um violoncelo e um rapaz para o carro que já não tem as rodas no passeio enquanto eles - cada vez mais altos, todos - combinam cinemas e almoços e trabalhos e conversas no msn (deixa, Mãe? claro!).

Em casa, computadores que se misturam com molas de roupa e panelas e o tilintar do micro-ondas e o telefone porque é a minha Mãe e as Mães têm que se beijar todos os dias. O som da água do duche do João, os pés descalços, jantar em pijama ainda com partituras e testes e recados da escola para eu assinar. Ver os mails em conjunto, rir das anedotas que os amigos contam e dos filmes que enviam, contar aventuras do dia, ver uma série (Coupling, Black Adder, Murphy Brown, Yes, Minister) das que se conhecem de cor porque é tão seguro que nos vão fazer sorrir, no mínimo, no final da corrida.

Chegou esta hora e o dia de hoje e o de amanhã misturam-se como sempre, porque estou a acabar trabalhos. Talvez vá fazer mais um café para o pessoal acordar e atinar com a programação. Mais um telefonema, equipas a trabalhar em paralelo noutros lados. O trabalho que se partilha (outra vez a partilha, aqui aprendizagem, camaradagem).

Dois dedos de conversa no msn com mais alguém chegado ao coração e ao sorriso, para além do cansaço, uma volta pelos blogs mais chegados para ver as novidades e pelos meus para escrever alguma coisa, tenho o dia a sair dos dedos, não chegavam quatro teclados para vos tocar.

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