segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Falar com o corpo


"O gesto, esta dança de palavras no espaço, é a minha sensibilidade, a minha poesia, o meu eu íntimo, o meu verdadeiro estilo."

Emmanuelle Laborit, O Grito da Gaivota

Comunicar tem tantas vertentes quanto as vontades que as motivarem. A fala, sentido lato, pode ser uma fonte de mal entendidos. Os olhos podem enganar. O corpo nunca. Por isso é tão autêntica a sua comunicação, é dela que nascemos, é chegados ao final do nosso corpo, no seu último comunicar com o outro, que nos despedimos. O frio da morte, o quente da vida, envoltos uns nos outros, aliança desde que há homens, dar as mãos às crianças guia-as ou guia-nos? Sobretudo liga-nos. Um olhar pode valer ou não mil palavras, mas um abraço vale certamente muitos discursos. Um gesto é tão válido quanto uma palavra, um toque tão autêntico como um poema. Menosprezamo-nos, infelizmente. Fabuloso saber comunicar de várias formas, não necessariamente porque tenha que ser, por não haver alternativas, mas porque a necessidade aguça a sensibilidade e esta passa-nos ao lado, habituados ao comodismo dos sentidos estrutamente necessários. Crescemos frios. Criamos mulheres preparadas para a solidão e para a dor. Criamos homens competitivos e que não choram. Estigmatizamos a diferença. Recusamo-nos a naturalizar aquilo que somos, um corpo rodeado de outros, mais nus e mais expostos que nunca, na multidão que corre e se empurra, sem saber para onde se dirige o carreiro. Ir mais além é importante, tão pouco o tempo que por cá passamos, dois dias, um para nascer outro para partir e vamos deixar de nos abraçar? É sempre tempo de falar com o corpo, é sempre tempo de pedir um outro abraço e sentir. Sem palavras.

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