quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Fios


Lutam os homens por ódio e por amor. Extremos de vida, extremos de sentir. Falta sempre qualquer coisa, asas de cera, queremos todos o sol. As quedas, inevitáveis. Vidas intensas, não sabemos ser de outro modo, os que vivem. Há tempo demais para descansar, no fim. Ter coragem para levantar sem forças e sempre, sempre, retomar o caminho escolhido, virar na curva seguinte, seguir pela relva descalços, pela areia mesmo que explorada, andar ou ficar, as decisões pesam e cortam como espadas. Quando se escolhe algo, algo é preterido, nada é pacífico ou inocente na nossa existência.

Acordei a pensar, fios que nos seguram, fortes e frágeis, vale a pena ver, mesmo que aperte a alma, de tão forte, não é grave, flexíveis, fortes, eternas, as almas saltam nas nossas mãos, batem como corações, mais eternas que estes. Os fios de que precisamos para nos situar. Em relação a nós mesmos, aos que de alguma forma estão presos a nós e que nos prenderam, quem me perguntava ontem pela transparência, não a encontrei ainda, estará no horizonte para que nos dirigimos, mais desfocado que gostaríamos, só um pedaço a revelar-se em cada trajecto? Naquele mundo, só os escravos não tinham fios... No nosso, também qualquer hora de vida pode demorar cinco anos a construir.

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