quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Partilhar


A verdadeira solidão é quando se olha para uma flor maravilhosa
e não se pode dizer: repara como esta flor é bela.
Nisso consiste a verdadeira solidão,
em não poder partilhar essa beleza com alguém.

GINO, um homem que vive na rua.
Os livros são sempre especiais. Têm um toque, um cheiro, uma memória anexa. Locais, comportamentos, datas. Ideias para trocar, ideias para escrever, tudo para questionar o até então estava adormecido. Livros são amigos, amigos partilham livros. Pessoas caminham ao nosso lado pelo mundo sem nada para partilhar, sem nada para perder, excepto a alma. Viver só não é viver longe do mundo, é viver longe do abraço do outro que se procura. Viver na rua não é estar abandonado, mas estar fora das paredes de um lar, ficar à porta de algo que é interdito, interditos nós. Testemunhar é um acto de coragem, de generosidade, de empatia, de carência. Por uns momentos Gino foi necessário a alguém. E é cruel pensar que a sua liberdade insustentável de ter o mundo como casa continua ou terminou já sem as portas do lar e do outro se terem aberto, sem os braços dos homens do outro lado das paredes o terem abraçado e acolhido. Nada pede a não ser que alguém caminhe ao seu lado, nada exige a não ser que aceitem o seu olhar sobre o mundo, varanda diferente de quem vive de forma diferente, de quem talvez já tenha vivido de forma igual. Ele sabe, nós, provavelmente, não. Mas as flores são mesmo mais bonitas quando os olhares passam a palavras e atingem o coração mais próximo.

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