quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Etiquetas 2

Etiqueta

do Fr. étiquette
s. f.

conjunto de cerimónias usadas na corte e no trato social;
trato cerimonioso;
regra;
estilo;
legenda;
rótulo que se põe sobre alguma coisa para indicar o conteúdo, o preço, etc. .


Etiquetar
verbo transitivo
pôr etiqueta, rótulo, legenda em
classificar


Esta palavra ETIQUETA faz-me reflectir sobre algumas coisas:

Começaram por pastilhas elásticas, colaram-se a produtos diversos como livros ou carros, ainda não felizmente a pessoas. São bichinhos engraçados porque úteis, até em termos de acessibilidade à informação, são rectangulozinhos filosóficos porque a informação neles contida não é vista e está lá, o essencial é, de facto, e com toda a tecologia disponível, invisível para os olhos e para o processamento humano...

Falei delas já várias vezes, estudo-as, procuro obviamente a minha - se alguém a encontrar avise, não há tarefa mais difícil e mais incoerente que sermos nós mesmos. Este jogo das etiquetas foi engraçado nesse sentido. Somos muito pelos outros que nos rodeiam.

O que define o ponto do caminho onde se vai, dos olhos ou da ponta dos dedos para as folhas em que nos procuramos. Faço colecção, adoro, é uma forma de criatividade e de identidade, bem como de identificação, quando se mantêm no ponto certo, na palavra pretendida, quando recordam de onde vieram, de tempos e espaços incorporados, de mãos amigas. Com existência própria, compatíveis com reflexões largas pelo que neles cabe de mensagem, de leitura e de mapa para leituras outras.

4. Ficção Científica
No Admirável Mundo Novo ou no 1984, como em tantas obras e contos de ficção científica, mesmo em cinematografia mais recente, uma das questões recorrentes é a possibilidade de controle de localização de corpos por um poder. Foucault explica. Temível. Manter a liberdade de ser e estar é fundamental. Fundamental e prioritário lutar pelo espaço próprio e alheio, pelo espaço de privacidade, equivalente a um conhecimento interior e a uma paz que equilibra, não devassada.

5. Preconceitos
Rotular pessoas por características ou comportamentos é uma das minhas missões de vida - para alguma coisa havia de cá andar, que não só para escrever posts... Impressiona-me e revolta-me o julgamento estético ou comportamental do outro, aquele em que nos revemos e que tememos. Impressiona-me e revolta-me que a liberdade de ser diferente (ou o estado de ser diferente, nem sempre decorrente de opções) seja manipulada, manipulável, socialmente castradora. Esta última reflexão não tem link. Deixo o link directo ao comportamento de cada um ao longo da sua vida. Olhar atentamente, ver o fundamental.

6. Comportamentos
Inevitavelmente as recordações de conselhos maternais sobre a colocação de cotovelos na mesa ou não trepar às arvores e não bater nos irmãos (cinco, gloriosa mãe). Comportamentos em geral, alguns cruelmente ligados a rótulos sociais ou culturais. Que continuamos inevitavelmente a impôr aos nossos filhos. De preferência com uma explicação sobre a relatividade, a mudança, a variedade e a liberdade.

7. Símbolos

Símbolos?
Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo,
Todos me dizem nada.
Quais símbolos?
Sonhos. —
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas,
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria — pobre figura de miséria e desamparo!
— Que o namorado voltasse para a costureira.

Álvaro de Campos

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